quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Breve história do cangaço em Sergipe

Breve história do cangaço em Sergipe O pequenino Sergipe, entre todos os estados pelos quais o flagelo do cangaço deixou suas marcas, tem lugar de destaque. Entramos definitivamente para a história do banditismo nacional, de forma excepcional e definitiva, no dia 27 de Julho de 1948, quando na gruta de Angicos, atualmente localizada no município de Poço Redondo, o tenente alagoano João Bezerra e sua volante liquidou o temido malfeitor Virgulino Ferreira da Silva, o afamado Lampião e parte de seus seguidores, interrompendo um reinado de quase 20 anos. O pano de fundo dessa tragédia social foi o sofrido sertão nordestino e sua temível caatinga, ambiente inóspito, no qual poucos sobreviviam, e o Raso da Catarina, em território baiano, sintetiza toda a insalubridade e aridez dessa região do Brasil. Tempos medonhos aqueles, em que o domínio socioeconômico era exercido por poderosos coronéis proprietários de imensos latifúndios, soberanos da terra e da gente, da vida e da morte. Os conflitos políticos e familiares estão entre os motivos que originaram a escalada da violência. Desse quotidiano participaram outros personagens que muitas vezes faziam jogo duplo, a depender de interesses pessoais. Volantes, grupos formados por soldados (chamados de macacos pelos cangaceiros) e cachimbos (civis contratados pelo estado), que praticavam todo o tipo de violação contra a população dos povoados e grotões, sendo tão temidos quanto os bandoleiros. Coiteiros (moradores da zona de conflito, que forçados ou não, auxiliavam os bandidos com suprimentos e esconderijo) enfim uma rede de omissão, medo e cumplicidade que permitiu a longa duração do embate. Mesmo passadas tantas décadas dos combates encarniçados e da morte do seu líder maior, este triste enredo ainda desperta paixões. É uma trajetória repleta de contradições com relação a datas e acontecimentos, que gera debates, movimentando um circulo gerador de divisas, com o nome e imagem do capitão sendo representado de diversas formas em manifestações artísticas e culturais, teses acadêmicas, artigos e investigações sociológicas. Em solo sergipano os famigerados meliantes, com seu chefe à frente, adentram pela primeira vez no dia 26 de Fevereiro de 1929, ou seja, aproximadamente 12 anos após o início da saga de Virgulino, que se dá com sua entrada no bando de Sinhô Pereira, professor e chefe do futuro senhor das caatingas. A cidade de Carira foi escolhida para a indesejável visita dos fugitivos da volante baiana. Dessa empreitada, participaram apenas sete feras sedentas de tudo, o que já era suficiente para aterrorizar qualquer povoação, e ali se utilizou mais uma vez a tática do bom visitante, amigo, cordial e respeitoso, que não pretendia cometer atos violentos, pagando por tudo que precisava, e promovendo festas. Suas estripulias em nossas terras gradativamente tornaram-se rotineiras. O rastro do mal logo se fez notar, trazendo ao pacato sergipano a dor da humilhação, as lágrimas pelos entes queridos ultrajados em sua honra ou mortos, as chantagens e extorsões. Como sempre acontecia, uma rede de colaboradores logo foi arquitetada, garantindo uma relativa segurança à cabroeira. No livro a misteriosa vida de Lampião, de autoria do cearense Cincinato Ferreira Neto, à página 158, encontra-se alusão ao nome de Eronildes de Carvalho, futuro interventor de Sergipe, e seu pai, Sr. Antônio Caixeiro, como um dos maiores protetores de Virgulino em terras sergipanas, fato que é contestado enfaticamente pelos familiares dos citados. N.S. da Glória, Pinhão, Frei Paulo, Alagadiço, Gararú, Aquidabã, Saco da Ribeira (Ribeirópolis), Monte Alegre, Canindé e Capela, onde a célebre chegada do malfazejo é contada até hoje, foram cidades testemunhas da aventura lampiônica. E muitos ainda recordam esse tempo sinistro. O nome de Zé Baiano, com seu ferro em brasa, que deixou marcas indeléveis no corpo de algumas mulheres ainda hoje causa repulsa. Muitos dos acontecimentos que fazem parte da história cangaceira foram invencionices criadas pelas mentes do povo, por escritores e jornalistas inescrupulosos. Enquanto uns consideravam Virgolino um facínora impiedoso e sanguinário, capaz das piores atrocidades, outros lhe atribuíam qualidades, tais como, caridoso, sábio, bondoso, justo, educado, refinado, artista etc. Porem, pesquisadores respeitados pela seriedade de seus trabalhos, são unanimes quando reconhecem no capitão a astúcia de um guerrilheiro, o tino estratégico e inteligência de um militar experimentado. Implacável quando se tratava de vingança e autoafirmação. Benevolente quando precisava de proteção, foi senhor do seu tempo, exercendo liderança absoluta sobre seus comandados, o que permitiu sobreviver, lutando sempre em desvantagem, sendo vencido pela traição, pela modernidade e superioridade numérica e logística dos seus perseguidores. A derrota, mais cedo ou mais tarde haveria de chegar e em Angicos se escreveu a ultima página da dessa dolorosa epopeia nordestina. Dalí escaparam alguns, que ajudaram a perpetuar o mito. Corisco, alcunhado de diabo louro, ausente no combate final, responsabilizou-se pelo funesto epílogo, promovendo como vingança, mais mortes brutais pela região. Foi morto no dia 25 de Maio de 1940, pondo fim ao banditismo, mas não às injustiças sociais que o criaram. FONTE: MACIEL. Frederico Bezerra. Lampião, seu tempo e seu reinado, vol.IV a campanha da Bahia, 2 edição, Ed. Vozes. Petrópolis, 1982 NETO, Cincinato Ferreira Neto. A misteriosa vida de Lampião. Fortaleza: Premius, 2008. FERREIRA, Vera. AMAURY, Antonio. De Virgolino a Lampião.São Paulo: Ideia Visual, 1999. COSTA, Alcino Alves. Lampião além da versão. Sociedade Editora de Sergipe.1966.

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