quinta-feira, 5 de julho de 2012
O DECLÍNIO DA MÚSICA BAIANA
Sou de uma geração que cresceu admirando os ótimos sons oriundos da Bahia, desde Dorival Caymmi e sua turma, passando pelo indefectível João Gilberto, pai da bossa nova, Tom Zé irreverente, o inigualável e eterno quarteto fantástico, Gil Caetano Bethânia e Gal, estrelas como Morais Moreira e Armandinho comandando o carnaval, Baby Consuelo, sempre telúrica, A cor do som, Pepeu Gomes e tantos outros talentos reconhecidos nacional e internacionalmente.
De repente, vem Luiz Caldas e sua revolução carregada de fricote, trazendo uma energia diferente, um ritmo novo claramente dançante, sem deixar de lado bons e criativos letras e arranjos, evocando o caliente Caribe, unindo-se ao afro reggae, lambada e samba de roda. Gritou-se pela liberdade de Mandela, exaltando-se a raiz africana com a com Banda Mel e Reflexus, e tudo isso resultou no que hoje chamamos de axé-music.
Dessa safra, apenas o Chiclete com Banana, (que a meu ver perdeu qualidade com o passar do tempo, apelando para produção exclusivamente carnavalesca) e Margareth Meneses sobreviveram, acompanhados das novas musas, Daniella, Ivete e Claudia, que sabiamente não caíram na armadilha da vulgaridade. Ecléticas e bem orientadas, definiram muito bem que caminhos queriam seguir.
A partir daí vem outra turma tecnicamente inferior, que levou uma outrora qualificada cena musical a um indiscutível declínio, explícito em grupelhos que se denominam "de pagode", com suas rimas fáceis, letras simplórias e muitas vezes obscenas, produções bem do agrado de uma parcela da população, e que se dissemina principalmente através de CDs piratas, encontrados em qualquer beira de esquina.
Essa onda atingiu em cheio o estado de Sergipe, grande mercado de artistas baianos, inundando as FMs voltadas para um público definido, ocupando todos os espaços. Os “boys”, com seus automóveis portadores de potentes equipamentos de som, fizeram sua parte invadindo as ruas, fazendo-se necessário a intervenção judicial para acabar com o desrespeito ao sossego alheio.
Certamente é legítimo o ditado que diz que gosto não se discute, o que nos leva a concluir que a radio segmentada parece ser o futuro que nos aguarda, com cada uma centrando-se em um tipo de música. Por enquanto, fico com a poesia do filósofo cearense Belchior, eternizada por Elis Regina: nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não.
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