segunda-feira, 21 de maio de 2012
NOTÍCIAS DO QUILOMBO DAS PALMARES
Existe uma variada bibliografia palmarina. Aqui e no exterior.
São canções, poemas, biografias, peças de teatro, roteiros, guias, dicas etc.
No entanto, quais aquelas obras que se tornaram marcantes e que obrigatoriamente a comunidade negra deveria ler para saber exatamente o que foi o Quilombo de Palmares?
Listo apenas quatro obras e explico as razões:
O QUILOMBO DE PALMARES, de Edison Carneiro, Civilização Brasileira, Rio de janeiro, 1966.
Carneiro é o primeiro historiador/antropólogo negro que publica diversos documentos portugueses e holandeses a respeito de Palmares, criando um panorama expesso e complexo, quebrando, por conseguinte, a versão ilusória da historiogrfaia oficial segundo a qual Zumbi teria se suicidado ao ver Macaco (capital de Palmares) invadida pelas tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho. No livro, pela primeira vez, vemos como se organizou a resistência negra, quais os conflitos internos dentro de Palmares, quais as nuances deste conflito, e como os ex-escravos conseguiram se impor como um estado diferente dentro do colonialismo português. A obra foi lançada primeiro no exterior, em 1946, e depois no Brasil, em 1966, dois anos depois da instituição da ditadura militar. O mérito de Carneiro: quebrou com os mitos da historiografia oficial, pois, nos deu uma visão mais abrangente de Palmares na história brasileira, também recuperando o papel de Zumbi como grande líder. 144 páginas.
O REINO NEGRO DE PALMARES, de Mário Martins de Freitas, Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1988. Esse cara era coronel do Exército, descendente de índios botacudos mineiros, combateu na Segunda Guerra Mundial, nascido em 1899. A visão de Freitas sobre etnias negras é horrível. No entanto, este livro se destacou imediatamente pelo seguinte: o número de documentos e fontes citadas/arroladas por Freitas se tronou insuperável. Nenhum historiador conseguira este feito de Freitas. Esse cara ralou bunda nos arquivos portugueses, holandeses e brasileiros, e assim, trouxe para seu livro narrativas coloniais impressionantes sobre Palmares e Zumbi. Até aquele momento, as fontes citadas não eram tão variadas e amplas sobre Palmares como Freitas assim o fez. Em relação a este livro, suas análises são precárias, mas ao lermos os documentos revelados ( transcritos no livro, MARAVILHA) a gente faz nossa avaliação do que foi aquilo, quer dizer, a maior guerra civil das Américas entre dois grupos antagônicos: os ex-escravos do Nordeste (Alagoas e Pernambuco) contra os colonialistas portugueses. 434 páginas.
PALMARES: A GUERRA DOS ESCRAVOS, de Décio Freitas, Graal, Rio de Janeiro, 1978, 3ª.edição. Finalmente, neste livro, nós ganhamos um intérprete marxista sobre Palmares. O resultado é que o livro se tornou um clássico na historiografia brasileira. Este livro foi quem turbinou a ação do movimento negro contemporâneo em tornar Zumbi herói nacional, de criar um movimento para o “Dia da Consciência Negra”, de fundamentar a luta afro em todos os sentidos. O militante afro que não leu este livro, está por fora. Literalmente. Qual a importância deste livro? Além do levantamento de novas fontes historiográficas nos arquivos portugueses, holandeses e brasileiros, Freitas faz uma narrativa densa, sofistifica Zumbi, alude ao choque entre os estados, as instituições, classes e os grupos que estão em jogo no período colonial. É o livro onde a gente tem a nítida compreensão da ascensão de Zumbi ao comando de Palmares, como ele montou seu esquema e sobrepujou Ganga-Zumba. Se tornou uma obra bastante fundamental para quem quer entender as lutas negras ao longo da história brasileira. 221 paginas.
MEMORIAL DOS PALMARES, de Ivan Alves Filho, Xenon, Rio de Janeiro, 1988. Em primeiro lugar, este autor, vai logo desmontando coisas que tínhamos firmado anteriormente: Palmares não durou 90 anos, mas 120 anos, pois, após sua morte, Zumbi teve outros seguidores, como Comoanga, que se dizia seguidor do maior líder de Palmares. Este cara, após a queda de Macaco, em 1695, fugiu da capital palmarina, e montou outros quilombos entre Alagoas, Paraiba e Rio Grande Norte. Esta revelação é feita com documentos. Do caralho. Aliás, a descrição dos documentos consultados por Alves Filho é de lascar. A impressão que a gente tem é que este historiador ficou anos diligentemente analisando toda documentação palmarina e mostrando num livro magnífico. Alves Filho retoma a primeira linha de Edison Carneiro e com uma sofisticada teoria marxista nos dá um entendimento complexo de Palmares. Talvez seja o livro básico e único até agora sobre Palmares. Isto porque o autor unia conhecimento teórico e capacidade de envolvimento com o tema que aborda. Depois deste livro, quem se atreveu a abordar Palmares
TEXTO DO JORNALISTA SERGIPANO CARLOS NOBRE, RADICADO NO RIO DE JANEIRO
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