terça-feira, 15 de maio de 2012

UM MARCO MEDIADOR NA CULTURA MUSEAL SERGIPANA




UM MARCO MEDIADOR NA CULTURA MUSEAL SERGIPANA


Após anos sem investimentos significativos na área de museus, Sergipe passa por um momento positivo de valorização desses espaços, quase sempre incompreendidos pela maior parte da população, que os conceitua como “lugar de coisas velhas”, não percebendo que as intenções dessas instituições não é preservar o passado. Longe de preservarem um significado eterno inerente a objetos, elas atribuem novos significados a objetos que foram retirados do tempo e do espaço em que foram originalmente produzidos conforme salienta Myriam Sepúlveda Pertence em seu artigo Políticas da Memória na Criação dos Museus Brasileiros (2002).
Ações pontuais contribuíram efetivamente para o renascimento do movimento museal em nossa terra.  A primeira delas foi a criação pela Universidade Federal de Sergipe do curso de Bacharelado em Museologia, que funciona há quatro anos na cidade de Laranjeiras, e que suprirá o mercado de mão de obra especializada e de qualidade. Naquela cidade o governo do estado gerencia duas instituições: o Museu de Arte Sacra de Laranjeiras e o Museu Afro Brasileiro de Sergipe, ambas fundadas no século passado, que juntamente com o Museu Histórico de Sergipe e o Museu de Arte Sacra, na cidade de São Cristovão, formam o conjunto das nossas mais conhecidas casas de memória.
Igualmente valiosas foram as medidas que culminaram com a criação, em pleno centro histórico de Aracaju, do Museu-Palácio Olímpio Campos e, mais recentemente, do Museu da Gente Sergipana, o maior investimento cultural realizado em Sergipe em todos os tempos, canalizando as atenções e recebendo elogios calorosos de todos que o visitam, representando assim um divisor de aguas na relação público/museu em nosso estado. Agora o museu tem novidades, e passa a ser um atrativo na vida cultural e social de Aracaju, um espaço de convivência democrático, a serviço da sociedade e seu desenvolvimento.
 Com suas tipologias, os espaços museais adquiriram um grau de importância maior no contexto social e econômico das grandes cidades, todavia, para chegar a esse patamar foram necessárias mudanças radicais impostas por um novo mundo que emergiu do período pós-guerra. Os grupos sociais modificaram-se, as desigualdades tornaram-se motivos para conflitos dos mais diversos. Dessa forma, o hermetismo dos museus, acompanhado de um perfil aristocrático passou a não ter sentido. Era necessário adequar-se aos novos tempos, comunicar-se com o exterior, participando efetivamente da construção de uma nova sociedade, tecendo uma teia de conhecimento e transmutando-se em ferramenta de inclusão e transformação social através ações e projetos educativos.
Na contemporaneidade os museus assemelham-se a um estabelecimento comercial. Necessitam de atrativos, espaços estruturados e confortáveis, que permitam a fruição por parte dos visitantes, projetos expositivos bem planejados, uso de recursos tecnológicos, política de marketing eficiente, e uma equipe interdisciplinar capacitada são fundamentais para um bom funcionamento.  Muitos deles tornam-se atrações turísticas, não só pela importância do seu acervo, como também pelo projeto arquitetônico futurista, promovendo um novo perfil social em seu entorno, gerador de renda e desenvolvimento, o que certamente acontecerá com o Museu da Gente Sergipana.
Tema de artigos e comentários diversos na imprensa sergipana, o novo museu, monopoliza nossa cena cultural, permitindo um novo olhar para o universo da ciência museológica, e gerando opiniões distintas e até criticas veladas.
Grandioso desde a sua concepção, não vejo outra denominação melhor para esse espaço do que a escolhida por seus criadores. A palavra Museu é carregada de significados, e traz consigo uma aura de poder que se manifesta na imponência do prédio e concede uma maior dimensão às ações ali articuladas.
Os profissionais que capitanearam as obras foram muito bem remunerados, como não poderia deixar de ser, e a competência de ambos devidamente reconhecida, o que não os credencia ao recebimento de títulos honoríficos, como sugerem alguns. Trabalhar com recursos financeiros ilimitados, como aconteceu neste caso é ótimo e o resultado não poderia ser outro. Em contra partida possuímos museus tradicionais, citados anteriormente, modestos, que não recebem grandes públicos, trabalham na maioria das vezes com verbas diminutas, que não permitem inovações técnicas, manutenção das suas instalações e acervos, e contratação de pessoal qualificado, sem, contudo deixarem de cumprir a missão para que foram criados.
Sergipe e sua memória agradecem ao Instituto Banese pela realização desse projeto maravilhoso, que nos inclui no rol dos possuidores de grandes centros culturais que abrigam além da sua exposição permanente, outras, itinerantes, e desenvolvem rotineiramente projetos sociais, de educação patrimonial e formação de identidade. Temos certeza que o Museu da Gente Sergipana, através do seu acervo e das narrativas construídas e reinterpretadas pelos seus visitantes reforçará em muitos o orgulho de ser sergipano, portador de uma cultura própria, única no universo. Torcemos para que os reflexos dessa verdadeira joia multipliquem-se e impulsionem definitivamente o movimento museológico como um todo, concedendo novas perspectivas àqueles que em breve estarão portando os seus diplomas de museólogo.
  

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