Após anos sem
investimentos significativos na área de museus, Sergipe passa por um momento
positivo de valorização desses espaços, quase sempre incompreendidos pela maior
parte da população, que os conceitua como “lugar de coisas velhas”, não percebendo
que as intenções dessas instituições não é preservar o passado. Longe de
preservarem um significado eterno inerente a objetos, elas atribuem novos significados
a objetos que foram retirados do tempo e do espaço em que foram originalmente
produzidos conforme salienta Myriam Sepúlveda Pertence em seu artigo Políticas
da Memória na Criação dos Museus Brasileiros (2002).
Ações pontuais
contribuíram efetivamente para o renascimento do movimento museal em nossa terra.
A primeira delas foi a criação pela
Universidade Federal de Sergipe do curso de Bacharelado em Museologia, que
funciona há quatro anos na cidade de Laranjeiras, e que suprirá o mercado de
mão de obra especializada e de qualidade. Naquela cidade o governo do estado
gerencia duas instituições: o Museu de Arte Sacra de Laranjeiras e o Museu Afro
Brasileiro de Sergipe, ambas fundadas no século passado, que juntamente com o
Museu Histórico de Sergipe e o Museu de Arte Sacra, na cidade de São Cristovão,
formam o conjunto das nossas mais conhecidas casas de memória.
Igualmente
valiosas foram as medidas que culminaram com a criação, em pleno centro
histórico de Aracaju, do Museu-Palácio Olímpio Campos e, mais recentemente, do
Museu da Gente Sergipana, o maior investimento cultural realizado em Sergipe em
todos os tempos, canalizando as atenções e recebendo elogios calorosos de todos
que o visitam, representando assim um divisor de aguas na relação público/museu
em nosso estado. Agora o museu tem novidades, e passa a ser um atrativo na vida
cultural e social de Aracaju, um espaço de convivência democrático, a serviço
da sociedade e seu desenvolvimento.
Com suas tipologias, os espaços museais adquiriram
um grau de importância maior no contexto social e econômico das grandes cidades,
todavia, para chegar a esse patamar foram necessárias mudanças radicais
impostas por um novo mundo que emergiu do período pós-guerra. Os grupos sociais
modificaram-se, as desigualdades tornaram-se motivos para conflitos dos mais
diversos. Dessa forma, o hermetismo dos museus, acompanhado de um perfil
aristocrático passou a não ter sentido. Era necessário adequar-se aos novos
tempos, comunicar-se com o exterior, participando efetivamente da construção de
uma nova sociedade, tecendo uma teia de conhecimento e transmutando-se em
ferramenta de inclusão e transformação social através ações e projetos
educativos.
Na
contemporaneidade os museus assemelham-se a um estabelecimento comercial. Necessitam
de atrativos, espaços estruturados e confortáveis, que permitam a fruição por
parte dos visitantes, projetos expositivos bem planejados, uso de recursos
tecnológicos, política de marketing eficiente, e uma equipe interdisciplinar
capacitada são fundamentais para um bom funcionamento. Muitos deles tornam-se atrações turísticas,
não só pela importância do seu acervo, como também pelo projeto arquitetônico
futurista, promovendo um novo perfil social em seu entorno, gerador de renda e
desenvolvimento, o que certamente acontecerá com o Museu da Gente Sergipana.
Tema de
artigos e comentários diversos na imprensa sergipana, o novo museu, monopoliza nossa
cena cultural, permitindo um novo olhar para o universo da ciência museológica,
e gerando opiniões distintas e até criticas veladas.
Grandioso
desde a sua concepção, não vejo outra denominação melhor para esse espaço do
que a escolhida por seus criadores. A palavra Museu é carregada de significados,
e traz consigo uma aura de poder que se manifesta na imponência do prédio e concede
uma maior dimensão às ações ali articuladas.
Os
profissionais que capitanearam as obras foram muito bem remunerados, como não
poderia deixar de ser, e a competência de ambos devidamente reconhecida, o que não
os credencia ao recebimento de títulos honoríficos, como sugerem alguns. Trabalhar
com recursos financeiros ilimitados, como aconteceu neste caso é ótimo e o
resultado não poderia ser outro. Em contra partida possuímos museus
tradicionais, citados anteriormente, modestos, que não recebem grandes
públicos, trabalham na maioria das vezes com verbas diminutas, que não permitem
inovações técnicas, manutenção das suas instalações e acervos, e contratação de
pessoal qualificado, sem, contudo deixarem de cumprir a missão para que foram
criados.
Sergipe e sua
memória agradecem ao Instituto Banese pela realização desse projeto
maravilhoso, que nos inclui no rol dos possuidores de grandes centros culturais
que abrigam além da sua exposição permanente, outras, itinerantes, e
desenvolvem rotineiramente projetos sociais, de educação patrimonial e formação
de identidade. Temos certeza que o Museu da Gente Sergipana, através do seu
acervo e das narrativas construídas e reinterpretadas pelos seus visitantes reforçará
em muitos o orgulho de ser sergipano, portador de uma cultura própria, única no
universo. Torcemos para que os reflexos dessa verdadeira joia multipliquem-se e
impulsionem definitivamente o movimento museológico como um todo, concedendo novas
perspectivas àqueles que em breve estarão portando os seus diplomas de
museólogo.

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