sábado, 30 de junho de 2012

BELEZAS SERGIPANAS

Mais uma vez as belezas do estado sergipano são destaques em matérias de circulação nacional. Na edição de hoje, 19.06, o encarte de turismo do Jornal O Estado de São Paulo, trouxe em sua publicação os principais roteiros turísticos de Sergipe, com destaque para o Cânion do Xingó e as cidades históricas sergipanas. Ao descrever Canindé de São Francisco, o jornal informou que a cidade é o portal de entrada do Complexo Turístico do Xingó, onde os adeptos do ecoturismo podem caminhar por trilhas percorridas por Lampião e seu bando e até conhecer pinturas rupestres de 9mil anos atrás. 'Uma das opções preferidas pelos turistas é o catamarã que sai do píer do restaurante Karranca's e no trajeto podem ser vistas várias ilhas e formações rochosas, como a Pedra do Gavião, o Morro do Macaco e a Pedra do Japonês', disse o jornalista Paulo Liebert. A matéria também lembrou que em Canindé vale apena conhecer o Museu de Arqueologia de Xingó (MAX), que reúne esqueletos humanos e pinturas rupestres, além de revelar diversos aspectos culturais de seus antigos habitantes. No museu encontra-se parte do material resgatado do Sítio Arqueológico do Justino, que foi alagado pela construção da barragem.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

PLÁGIO É CRIME

"Plagiar é usurpar, roubar a essencia criativa de uma obra. No plágio de uma obra, em alguns casos, os plagiadores, desde que não descobertos, terão o aproveitamento economico do crime".Texto de Paulo Roberto ulhoa, publicado em "A Gazeta" do Espírito Santo, em 09/05/2006. A propósito, em uma das barracas do arraiá do povo um vendedor de cordel apresenta e vende a história em quadrinhos "Lampião" na íntegra, totalmente xerocada e claro sem citar o autor, o alagoano Ruben Wanderlei Filho, nas barbas dos representantes da Secult, promotora do evento. Lamentável.

terça-feira, 26 de junho de 2012

José Eugenio, o decano.

O jornalismo de Sergipe tem em José Eugenio de Jeusus um verdadeiro arquivo vivo.Cognominado "a maior patente do esporte no rádio",Zéugenio, como é carinhosamente chamado por todos, completará em breve 94 anos, dedicando seu tempo com leituras, e escrevendo poemas que pretende publicar em breve. Até Julho de 2011, colaborava com o programa Paulo Lacerda na Jornal AM, sendo considerado à época o cronista esportivo mais idoso do Brasil. Constantemente recebe convites para palestras, realizando-as com o maior prazer. è fundador da ACDS e presidente de honra da ASI.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

BRASILEIRO É LOUCO POR FUTEBOL

Brasileiro é louco por futebol. A verdade estava ali, nua e crua à sua frente. Nua, a sua Rosa, com os olhos semicerrados e o cabelo espinhado em completo desalinho, oscilava freneticamente, possuída e tremula, daquela mesma forma que o fizera endoidecer anos atrás, e esquecer-se da sinuca e companheiros de boemia e samba nas noites de sexta feira. Faminta por sexo, a mulata sestrosa o praticava sem pudor e sem barreiras. Crua, e totalmente em riste, a ponta de lança de Meninão nela penetrava sem retranca, num frenesi tal, que a qualquer instante sairia fogo das virilhas dos dois. Gemiam, junto com a cama meio desmantelada, comprada ha dois dias atrás de um vascaíno raivoso, em cuja padaria Beto tomava café todos os dias, antes de pegar no batente. Engoliu em seco, com a língua colada no céu da boca. Marcara com o parceiro para irem juntos ao estádio, dia de decisão, Fla-Flu, jogo fácil, mão na taça e festa pronta na Toca do Urubu, com direito a torresmo e pinga da boa por conta da casa. Mas o dito cujo não deu as caras, deixando Beto a ver navios na entrada de um Maracanã superlotado em vermelho e preto. O vento gelado daquela noite trouxe-lhe sussurros de suspeitas, fazendo com que dessa meia volta e apressasse os passos na direção do morro, fugindo dos primeiros pingos que começavam a cair. O guarda chuva armado o impediu de vislumbrar a figura soturna de Zé Bodega, dono da vendinha na entrada do emaranhado de vielas, que levava ao topo da colina repleta de casebres de zinco e Madeirit. A porta, escancarada de repente, fez com que a fêmea fogosa cessasse a doida cavalgada, porém, aterrada e prevendo um final infeliz para aquela noite, entrou em estado de choque, continuando, agora estática e de olhos arregalados, em cima do franzino moleque, que desmaiado de tanto gozo, ficou preso entre as pernas poderosas que tanto apreciava. Na TV ligada no único cômodo do barraco, sua outra paixão, partia em contra ataque ferino, entrava em velocidade pelo meio, sem encontrar resistência no adversário. Sobre o tamborete improvisado de criado-mudo, a garrafa de Brahma pela metade assistia a tudo, refletindo a luz intermitente vinda do aparelho, dando ao cenário dramático, conferindo novos tons a cada momento, num misto de cores variadas e brilhantes. Beto sentiu um leve arrepio percorrer lhe o corpo inteiro e um cheiro doce de sangue, invadiu lhe as narinas misturando-se com o indefectível odor de cerveja misturado ao pó de arroz, que o negrinho ousado e tirado a bacana, usava para irritar os amigos nos dias de vitória tricolor. Só quando percebeu a rigidez e a frieza do corpanzil da amante foi que Meninão abriu os olhos e percebeu que o jogo estava perdido. Sentiu então o liquido viscoso e quente escorrendo-lhe por entre as bolas. Nem gritou quando o golpe certeiro de caco de vidro foi direto ao seu coração. Fogos e gritos e rajadas de fuzil invadiram a cabeça chata de Beto, enquanto milhares de mãos o aplaudiam e o canto coletivo ê ô ê ô Nego Beto é o terror vibrava pelo cubículo, trazendo-lhe alento e completa felicidade, acompanhado por bandeiras de todos os tamanhos, com sua imagem impressa em vários formatos. Todos queriam o seu abraço suado e o seu sorriso banguelo, e davam-lhe amigáveis tapinhas nas costas, uns colocavam em sua boca goles generosos de cachaça enquanto outros entravam e saiam da cena macabra, até que ficou sozinho. Nada mais importava naquele momento. Não havia dor, nem lágrimas, nem remorsos, nem lembranças boas ou más para guardar. Rosa sumira da sua frente, bem como o Meninão. Juntou garrafas num saco plástico e desceu a encosta sem olhar para traz. Na birosca, lá na entrada do morro, o samba já rolava, cavaco e pandeiro convidando para um novo trago, para um novo dia, e sua galera já o aguardavam com os gritos de é campeão ecoando pelos becos escuros. A camisa, mais vermelha do que preta, parecia nada dizer e nem foi notada pelos amigos.

GILBERTO GIL. AQUELE ABRAÇO.

Impossível esconder minha admiração pelo ás da MPB brasileira, Gilbero Gil. Esteve presente em todos os momentos importantes do cenário musical brasileiro. Sua atuação como Ministro da Cultura agradou aos gregos. Quanto aos troianos....... Troianos são troianos e fim de papo.Estive presente em très apresentações inésquecíveis do astro: noite fria do Encontro Cultural de Laranjeiras, Iate Clube de Aracajú e orla da praia de Atalaia no festival de verão.Palmas e loas para e setentão que ainda tem muito a oferecer à arte brasileira de cantar e compor como nimguém. FELIZ ANIVERSÁRIO

ARACAJU, CAMPINA GRANDE OU CARUARU ? ARACAJU, É CLARO

Aracaju, Campina Grande ou Caruaru? Aracaju, é claro. Quando se fala em grandiosas festas juninas no Brasil, de imediato vem à tona o nome de três cidades que se sobressaem sobre todas as outras: Aracaju, Campina Grande e Caruaru, as duas últimas com mais espaço na mídia nacional. Afinal, qual delas faz o melhor São João do Brasil? Como sergipano, puxo sem vacilar e com argumentos, a brasa para a minha sardinha, porém sem deixar de vislumbrar alguns aspectos que necessitam de uma melhor atenção por parte dos organizadores do forrócaju. Em minha opinião, a área do mercado é boa para a realização do evento por está localizada no centro histórico da cidade, o que facilita em termos de locomoção. Todavia, acho que a estrutura poderia ser melhor trabalhada, aumentando o espaço útil para acomodação dos forrozeiros, evitando superlotação e tumultos. O piso também poderia ser melhorado, criando-se uma superfície uniforme, o que traria mais bem estar para os transeuntes. Uma padronização dos bares e barracas criaria um efeito estético bem melhor que o atual. Já estive em Campina Grande em duas oportunidades, e não há muitas diferenças com relação à Aracaju. Vejo o nosso povo mais empolgado e eles mais organizados em alguns detalhes. Lá, a formatação do espaço, com a criação de "ilhas de forró" é um ponto positivo, pois traz a descentralização de brincantes, contribuindo para a maior contratação de artistas locais para participarem da festança. Poderia ser usado aqui. A marinete do forró é exemplo da cópia que deu certo. O forró na orla de Atalaia, sem dúvida alguma, é uma grande sacada e o diferencial aracajuano. O espaço é gostoso e mais atraente que o do mercado. As barracas de artesanato e comidas típicas, a cidade cenográfica, junto com o espaço J. Inácio de arte e cultura dão um clima especial, e a existência de hotéis e restaurante à vontade, proporciona conforto e comodidade a todos. Ainda temos o barco do forró, que acredito ser único na região. Por tudo isso, somos merecedores do título de melhor São João do Brasil. Convido a todos para um debate saudável.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

CONHEÇA NOSSOS ARTISTAS : J. INÁCIO

J. Inácio, artista da alma sergipana Nem sempre a formalidade da crítica é capaz de revelar a arte e seus artistas, quando ... Nem sempre a formalidade da crítica é capaz de revelar a arte e seus artistas, quando eles fogem dos enquadramentos estéticos. J. Inácio, nascido José Inácio de Oliveira, que também se assinou Igo, teve escola e suas obras, embora pareçam anárquicas, são a mais próxima expressão da alma sergipana. Não apenas pelas cores, fortes e repetidas, pelos objetos, tanto os internos da casa, da cozinha, como os externos, bananeiras, jaqueiras, outras fruteiras, que se fundem nas paisagens típicas da terra sergipana. Vivendo muito, 96 anos, J. Inácio teve tempo de mesclar a sua arte, mas preferiu afirmar-se na repetição, deixando para os críticos o problema teórico da interpretação, como ele próprio prometeu, certa feita, ao falar de si mesmo. É certo que seu filho Caã herdou formas e cores, ainda que mantenha-se tímido, sem querer trafegar na esteira do modelo do pai. Outros seguidores, por onde andam com suas telas? J. Inácio não precisou da morte para ser “santificado” entre os sergipanos. Sua vida errante, desapregada dos cânones tradicionais, não justifica, apenas, as três viagens que fez, a pé, do Rio de Janeiro, nem mesmo a convivência turbulenta com seu irmão santo, Padre Pedro. Sem casa, sem rumo diário para o exercício da sobrevivência, simplesmente tocou o cotidiano, sem requerer fortunas, ou mesmo soldos ou salários que pagassem suas magras contas. Vendeu quadros geniais como quem vende bananas, sem qualquer preocupação em diferenciar uma coisa da outra. Não raro foi tido como doido, eufemismo popular de patologias diversas de loucura, mas a tudo resistiu, com uma ponta de ironia, marcante em seu passeio de quase um século pelo mundo. Não há, ainda, um inventário da obra inaciana. Nem da quantidade, tarefa desafiante, nem da qualidade, que vai exigir análise crítica. Há, contudo, alguma coisa escrita em torno da figura do artista, com reprodução de sua arte. TEXTO DE AUTORIA DE LUIZ ANTONIO BARRETO

quinta-feira, 14 de junho de 2012

AMOROSA, ARTISTA SERGIPANA

Conheço Amorosa desde os tempos do Tropeiro. Magrela da gota prá cantar bem,cara e voz de sertaneja sofrendo influencia direta de Elba Ramalho. Depois achou seu caminho. Intérprete perfeita para as músicas de Ismar Barreto. Coco da Capsulana faz sucesso em qualquer lugar do mundo. Dias desses encontrei-a num consultório odontológico, toda chique e com um sotaque muito diferente para quem nasceu em Itabaiana-SE. Carioca misturada com não sei o quê. Uma pena. Mas não deixei de ser seu fã.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

13 de Junho dia de Santo Antonio

Hoje as ruas do centenário Bairro Santo Antonio estarão enfeitadas de bandeirolas coloridas e as fogueiras alumiaram a noite,que ainda na se enamorou do frio do inverno. Centenas de pessoas subiram à colina para acompanharem a missa campal que alí se celebra anumciando o fim da tradicional trezena dedicada ao santo casamenteiro, e de lá sairam em procissão pelas ruas repletas de gente nas calçadas, que acompanham os canticos puxados pelo pároco e beatas.É uma bela festa, sem dúvida alguma uma das maiores de Aracaju.Glorioso Santo Antônio, rogai por nós. "Santo Antônio nasceu em Lisboa em data incerta, entre 1191 e 1195 (aceita-se oficialmente a data de 15 de agosto de 1195), filho de Martim de Bulhões e Maria Teresa Taveira Azevedo, numa casa próxima da Sé de Lisboa, às portas da cidade, no local, assim se pensa, onde posteriormente se ergueu a igreja sob sua invocação. Também a forma de seu nome de batismo é obscura, pode ter sido Fernando Martins ou Fernando de Bulhões.[4][2] Várias biografias escritas no século XV dizem que o pai era descendente do celebrado Godofredo de Bulhões, comandante da I Cruzada, e que a mãe descendia de Froila I, rei de Astúrias, mas embora fossem nobres e ricos, tal ascendência nunca pôde ser comprovada.[5] Fez os primeiros estudos na Igreja de Santa Maria Maior (hoje Sé de Lisboa), sob a direção dos cônegos da Ordem dos Regrantes de Santo Agostinho. Como era a prática da ordem, deve ter recebido instrução no currículo das artes liberais do trivium e do quadrivium, o que certamente plasmou seu caráter intelectual. Ingressando ainda um adolescente como noviço da mesma Ordem, no Mosteiro de São Vicente de Fora, iniciou os estudos para sua formação religiosa. A biblioteca de São Vicente de Fora era afamada pela sua rica coleção de manuscritos sobre as ciências naturais, em especial a medicina, o que pode explicar as constantes referências científicas em seus sermões". FONTE: WIKIPÉDIA

A CHEGANÇA DE ZÉ DO PÃO.

Chegança Dança que representa em sua evolução a luta dos cristãos pelo batismo dos Mouros. A apresentação sempre acontece na porta de igrejas, onde uma embarcação de madeira é montada para o desenvolvimento das jornadas. A predominância é do azul e do branco. O padre, o rei e os Mouros (personagens da Chegança), utilizam outras tonalidades. O pandeiro é o principal instrumento de acompanhamento, eles utilizam também apitos e espadas. Bastante teatral, a apresentação completa da Chegança demora, geralmente, 60 minutos. Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sergipe/sergipe-5.php#ixzz1xg0D37rI Um dos grandes mestres da Chegança em Sergipe foi Zé do Pão, que morava na Rua Divina Pastora, onde hoje funciona a UNIT.Seu grupo apresentava-se sempre no fundo da Catedral Metropolitana durante o periodo natalino, atraindo o público com sua tradicionalidade e esmero nas vestimentas. Zé do Pão, um legítimo mestre da cultura popular. Deus o tenha na sua glória. Amém

CONHEÇA NOSSOS ARTISTAS: TONHO BAIXINHO

Tonho Baixinho é outro cara de fé, artista sergipano que junto com o finado Irmão marcaram época no cenário artistico de Sergipe. Merece todas as palmas e loas. É famosa a sua parceria com Gil, nos bons tempos da Atalaia Nova, fato reconhecido pelo mega star baiano em apresentação no Festival de Verão 2010, na Prais de Atalaia.

CONHEÇA NOSSOS ARTISTAS: CESINHA E SUA BONECA

ENTRE OS GRANDES ARTISTAS SERGIPANOS,DESTACO CESINHA E SUA BONECA GENOVEVA, QUE SEMPRE ACOMPANHA OS SHOWS DE SERGIVAL. ÚNICO EM SERGIPE NA ARTE DE BAILAR COM BONECAS DE PANO, EXTREMAMENTE CORDIAL E PRESTATIVO, É UMA DAS FIGURAS QUE VALE A PENA CONHECER. PRECISO DE MAIS INFORMAÇOES SOBRE O BRINCANTE PARA PUBLICAR NESTE BOLG.PEÇO A COLABORAÇÃO DE TODOS OS AMANTES DA CULTURA SERGIPANA. BREVEMENTE NESTE BLOG MOSTRAREMOS FOTO INÉDITA DE CESINHA DANÇANDO COM UMA BONECA DE CARNE E OSSO CHAMADA PALOMA.

O BRAVO SARGENTO ZACARIAS

Luiz Eduardo Costa 08/01/2012 14:07:31 O BRAVO SARGENTO ZACARIAS Silenciosamente, sem honras militares, com a presença da família, dos amigos e de um oficial do exército brasileiro foi sepultado em Aracaju um herói de guerra. Era Zacarias Isidoro Cardoso, o Sargento Zacarias. Os mais jovens nem sabem quem ele foi. Lamentavelmente, os jovens nem andam sabendo se um dia o Brasil foi à guerra, combateu distante, do outro lado do Atlântico, na Itália, entre as escarpas geladas dos Apeninos e as planuras do Vale do Pó. Continuamos assim mesmo, esquecidos da nossa História, descuidados com os nossos heróis. Talvez, por isso, andemos frequentemente carentes de autoestima. Somos agora a sexta potência econômica do mundo, mas parecemos acanhados, porque estamos longe, ainda, do grau de civilização alcançada por países do chamado primeiro mundo. Nos Estados Unidos, a grande potência ainda hegemônica, começa agora a corrida eleitoral pela presidência, e no páreo, os republicanos colocam pré-candidatos que fazem entre si uma competição obscurantista. Parecem uns trogloditas. Acreditam piamente que aos Estados Unidos Deus atribuiu a missão de policiar o mundo; negam evidências científicas, como a teoria da evolução, consideram ímpios os que não interpretam o criacionismo ao pé da letra, dando seis dias para que Deus construísse o mundo, descansasse no sétimo, (como se Deus fosse humanamente sujeito a fadigas) depois, colocasse Adão e Eva castamente no paraíso, para cederem diante das tentações da serpente que os fez comer a maçã. Em Paris, onde inventaram o réveillon, a passagem do ano foi marcada, como sempre, por muita violência. Na avenida dos Champ Elysées, fortemente policiada, não se impediu a ação dos punguistas, das gangs violentas. Não houve show pirotécnico, mas centenas de fogueiras foram acesas nos bairros da periferia. Eram automóveis incendiados. Aqui, fizemos o melhor réveillon do mundo, dois milhões de pessoas nas areias de Copacabana, e quase nenhuma violência. Mas eles são os civilizados. Nós somos tupiniquins. O que nos falta então? A resposta parece simples, e sem nenhuma contaminação desse enchimento de saco chamado autoajuda: precisamos, como povo, acreditar em nós mesmos. Para que essa crença se consolide, teremos, também, de nos conhecer melhor. A História de um povo é sempre um bom fio condutor para o futuro. Valorizando a autocrítica, afastando qualquer sentimento de superioridade, fortalecendo a solidariedade com o mundo, o autoconhecimento é parte indispensável de qualquer processo civilizatório. Morreu o Sargento Zacarias, herói sergipano, maruinense, detentor de medalhas de combate, uma delas, honraria única, jamais concedida. Relembremos o que ele fez, relembremos do seu tempo. Em agosto de 42, o mundo já estava há quase três anos mergulhado numa guerra que se estendia do norte gelado da Noruega, passando pelas estepes russas, chegando às areias dos desertos africanos, às ilhas do Pacífico e a todos os mares. O Brasil, onde uma elite fascista admirava Hitler e Mussolini, recebera um ultimato do presidente Roosevelt: bases para os americanos, ou seria ocupado o nordeste, posição estratégica para a invasão da África e domínio do Atlântico Sul. Getúlio foi hábil, obteve financiamentos, uma siderúrgica, Volta Redonda, armas, e cedeu. Os submarinos alemães e italianos espalhavam-se em matilhas pelo Atlântico. Naquele mês, cinco navios foram torpedeados e afundados entre o sul sergipano e o norte da Bahia. Centenas de cadáveres e alguns sobreviventes vieram dar às nossas praias, da Atalaia ao Saco. Aracaju era uma cidade com pouco mais de 50 mil habitantes, quase isolada do resto do país. Para chegar até a Atalaia era preciso vencer muitos obstáculos. Não havia estradas para as praias das Caueiras, do Abaís, do Saco. Havia apenas umas poucas dezenas de veículos. Contava Walter Baptista, piloto do Aeroclube de Aracaju, que comandou as operações aéreas de reconhecimento e resgate, que o pânico tomou conta da cidade, alarmada com a possibilidade de um desembarque ou um bombardeio alemão. Murillo Mellins, nosso memorialista maior, conta: Ele tinha 15 anos e participou das correrias e quebra-quebras em busca de alemães e italianos, e das suas propriedades. No grupo de meninos, havia um com 17 anos, era Zacarias. Ele não queria vingar-se dos gringos aqui, queria combatê-los na Europa. Foi uma luta para conseguir alistar-se no Exército, e só em 44 partiu para a Itália. Lá, antes do combate verdadeiro, houve outro, travado nos estados-maiores do 5º exército americano e da nossa Divisão de Infantaria. Era preciso convencer ao comando americano que a tropa da FEB estava apta para a luta, mesmo com equipamentos deficientes, os mal nutridos de um país para eles ainda selvagem, tinham condições para combater. O Brasil era o único país, além dos contendores europeus, asiáticos, dos Estados Unidos e das colônias anglo-francesas, que tinha tropas na Europa. Foi raça, superação e persistência, que tornaram confiáveis nossos soldados. Ousadias como as de um soldado Zacarias, mostraram aos gringos desconfiados, que os desacreditados brasileiros eram combatentes tão bons, em alguns casos, até melhores do que eles. Vamos contar nas nossas escolas a vida do Sargento Zacarias, mostrá-la no Museu da Gente Sergipana, dar o seu nome a uma grande avenida. Por que não aquela que o governo do estado constrói, ligando Socorro à rodovia BR-101? Ou aquela outra, em Aracaju, que a prefeitura está fazendo, o acesso à ponte sobre o rio Poxim. Enfim, uma AVENIDA SARGENTO ZACARIAS.

AS RAÍZES DO ILÊ AXÉ ALAKETU OYÁ BALÉ CABOCLO GONGOMBIRA

AS RAÍZES DO ILÊ AXÉ ALAKETU OYÁ BALÉ CABOCLO GONGOMBIRA TEXTO DO MUSEÓLOGO SERGIPANO CLAUDIO DE JESUS SANTOS, FORMADO NA UFS. O sangue e a Ancestralidade Não há como negar Não há como recuar Não há como recusar Nos eleva e identifica Severo D’Acelino. 2002 É pelo respeito e importância dada aos seus ancestrais que os povos africanos e afro-brasileiros cultuaram e cultuam seus Orixás, Voduns e Inquices mantendo forte suas tradições ao longo do tempo. É também dessa forma que o Ilê Asé Alaketu Oyá Balé Caboclo Gongombira considera de grande importância fazer um “exercício de memória” relembrando e buscando sempre as suas raízes. Fundado em 15 de janeiro de 1989, o Ilê Asé Alaketu Oyá Balé, encontra-se situado na zona sul de Aracaju, no Loteamento Marivam, Bairro Santa Maria, nº 210. O Terreiro que está sob os cuidados da Iyalorixá Maria Claudeildes Santos de Santana, filha de Oyá Balé tendo como urukó Megelecy, cultua seus Orixás e Voduns (1) nas nações de Ketu (2) e Jeje, cultuando também os caboclos e exus na nação Angola, preservando assim o patrimônio religioso e cultural dos seus antepassados. Dessa forma é preciso salientar que as suas raízes estão diretamente ligadas a uma das casas de Ketu mais tradicionais do Estado de Sergipe, o Abagsá Ogun Marinho, situado no Bairro Santos Dumont, Rua Jaime Paulo, nº97, também em Aracaju, pertencente a Iyalorixá octogenária Josefa Maria dos Santos, sua Mãe de Santo e consanguínea. Conhecida popularmente como Mãe Nair, a história da Iyalorixá Josefa Maria se entrelaça com a história de alguns nomes importantes que contribuíram para a formação da memória do candomblé sergipano. Filha de santo e neta sanguínea da Iyalorixá Elisa Martins dos Santos, conhecida como Eliza D’Ayará, Mãe Nair foi iniciada com o Orixá Ogum tendo como urukó (3) “Lua-Omim”. Já Elisa D’Ayrá, por sua vez, foi iniciada com o Orixá Xangô e de urukó Babá-Omim, fazendo parte da primeira geração de iniciados no “candomblé de feitorio” do Estado de Sergipe, na Nação de Ketu, introduzido pelo Babalorixá baiano Manuel do Amaral, conhecido popularmente como Manezinho Sandayó, nos anos de 1920. Entre os primeiros iniciados, segundo Mãe Nair (4), estavam Ercília Lima, a primeira raspada (5) em Sergipe, com o Orixá Oxum, Elisa Martins (sua avó) com Xangô, Odete com Odé, Carmelita com Xangô Aganjú, Otávio com Oxosse, José Adolfo com Iemanjá, Eleonora com Oxalá Talabi, Jorge Paim com Oxum, Kaciano com Obaluayê, Malaquias com Xangô, Washington e o Ogã (6) Bomfim com Oxalá. Foi seguindo os conhecimentos tradicionais ensinados por Manezinho Sandayó que a Iyalorixá Elisa D’Ayrá abriu o “Terreiro São Pedro”, situado no alto da Suissa Braba em Aracaju, e iniciou seus poucos filhos-de-santo, entre eles Nair de Ogun (sua neta), Carmelita de Obaluayê, Núbia da Oxum e Carminha da Oyá. Anos mais tarde Elisa D’Ayrá viajou para a Ilha da Conceição, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, região em que plantou seu Axé e após seu falecimento deixou sob os cuidados de Benício de Xangô e de Bebé sua esposa, o qual veio a ser fechado após o falecimento dos mesmos. Na atualidade, mesmo com o falecimento da Iyalorixá Elisa de D’Ayrá, o Orixá Xangô Babá-Omim permanece na família, ficando como “Deixa” (7) de Mãe Nair, sendo cultuado no Ilé Asé Oyá Balé Caboclo Gongombira, o qual mantém sua tradição. “Kawó-kabiyèsíle!” 3.PENSANDO NO UNIVERSO DO AXÉ: O MUSEU, O TERREIRO E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO AFRO-BRASILEIRO Refletir sobre o patrimônio cultural afro-brasileiro no universo do axé, “força movimentadora da vida” (D’ACELINO, 2008) é uma tarefa instigante e ao mesmo tempo surpreendente quando correlacionamos dois, dos principais espaços, responsáveis pela sua preservação e valorização: o museu e o terreiro. Ao lançarmos o nosso olhar pelas lentes da cultura afro-brasileira poderíamos afirmar que além do Terreiro, o Museu também possui esse axé, que pode ser percebido quando enxergamos o museu como um fenômeno, o qual: “Pode existir em qualquer espaço, em qualquer tempo. Inexiste, portanto, uma forma ‘ideal’ de Museu, que possa ser utilizada em diferentes realidades: o Museu toma a forma possível em cada sociedade, sob a influência dos seus valores e representações” (SCHEINER, 2001, p.06). Fazendo uma correlação do museu com o terreiro, podemos dizer que é o axé grande responsável por dar “alma as coisas” e trazer para seus objetos o Ori, manifestando sua individualidade e identidade que caracteriza cada bem patrimonial. O museu também é o responsável pelo Okan, “órgão que centraliza o poder de vida e sede da inteligência, do pensamento e da ação” podendo este ser entendido como a memória. E para guardar o conjunto desse patrimônio, temos as Iyabás, dentre elas, Nanã, Iemanjá, Iansã e Oxum, as quis nos lembram as musas. Diante dessa breve relação simbólica entre o museu e universo cultural afro-brasileiro faz-se necessário ressaltar a importância do Ilê para a preservação e valorização dos bens culturais e patrimoniais produzidos pelos afro-descendentes no Brasil. Assim como o museu, os terreiros também selecionam, guardam e expõem “coisas” com a intenção de evocar lembranças e tencionar a reconstrução de uma determinada época, seja no culto aos seus ancestrais ou até mesmo nas relações hierárquicas que são estabelecidas entre seus membros, com a intenção de manter uma tradição. Dessa forma o terreiro se assemelha ao museu, construindo “teias de significados” (GERRETZ, 1978) através do seu patrimônio material e humano, presentes no seu dia-a-dia, num processo constante de construção e reafirmação de sua identidade. E, em se tratando do patrimônio humano, talvez, seja esse o grande diferencial entre ambos ao se trabalhar a sua preservação. Pois como destaca Bruno Brulon “Ao se tombar um terreiro de candomblé, o que se deseja preservar em primeiro lugar é a comunidade que nele vive, se transforma e se manifesta culturalmente pela religião” (2008, p.135), o que nem sempre acontece com os museus, uma vez que muitos sacralizam suas em vitrines, afastando-os de seus grupos produtores. Essa relevância poderá ser percebida também nos critérios que levamos em consideração ao pensar a musealização do Ilê Axé de Alaketu Oyá Balé Caboclo Gongombira, uma vez que a intenção se faz em justamente ressaltar a importância do Terreiro para a comunidade local em que está inserido, com a finalidade de criar mecanismos que tragam a interação, dos que transitam neste espaço, com o patrimônio que ali se encontra contribuindo para o processo de valorização da cultura afro-brasileira em Sergipe.

O CRISTO DE SÃO CRISTOVÃO

Da rodovia João Bebe água já é possível avistá-lo. Seus dois braços não estão completamente abertos, mas demonstram uma ternura de quem chama para um abraço. Esse é o Cristo Redentor de Sergipe, localizado no município histórico de São Cristóvão. Construído na pequena Colina de São Gonçalo, o monumento é mais antigo do que seu primo carioca. Segundo levantamentos do historiador Thiago Fragata¹, os trabalhos para a edificação do Cristo Carioca começaram no mesmo ano em que a estátua foi inaugurada em Sergipe, 1926. “Sergipe tem a primeira estátua de Cristo Redentor do Brasil, fato ignorado por muitos sergipanos. O dado foi evidenciado no levantamento empreendido pelos pesquisadores de Belas Artes de São Paulo, em 1984, que após identificar a existência de 1200 redentores brasileiros destacaram o exemplar sergipano como o mais antigo e original, pois ele diverge da matriz carioca”. Visual Apesar do local apresentar fortes sinais de abandono, a vista vale a pena. De lá é possível, além da estátua, apreciar uma bela paisagem panorâmica da cidade. Um olhar atento alcança as estruturas da Igreja Nossa Senhora das Vitórias; as paredes do Fórum Gilson Gois Soares e, do lado esquerdo, ainda é possível ver bem longe as águas do Rio Vaza-Barris que cortam o município. Um belo quadro para ser contemplado. Nas palavras de uma visitante e moradora de São Cirstóvão que, por motivos de timidez, quis permanecer anônima: “O local vale a pena pela vista e pela tranqüilidade, parece que aqui tem uma barreira e quando a gente vem nesse lugar todo o estresse fica para trás”. A estátua com braços semi abertos possui somando a sua base 16 metros de altura. Foi construída no Governo de Graccho Cardoso e reformada em 1972 no governo de Paulo Correia dos Santos. A cidade de São Cristóvão, localizada a 25 km de Aracaju, foi fundada em 1590 e é considerada a quarta cidade mais antiga do país. Foi a primeira capital do estado de Sergipe. ___fonte: www.overmundo.com.br

segunda-feira, 11 de junho de 2012

QUADRILHAS JUNINAS: TRADIÇÃO E MODERNIDADE.

Quadrilhas juninas: tradição e modernidade. Como todo bem sergipano, também participei de quadrilhas juninas, praxe em todas as escolas e bairros durante todo o mês de Junho, de onde brotaram amizades e amores verdadeiros, momentos inesquecíveis que permanecem acessos, tal qual fogueira, no inconsciente coletivo da nossa gente. O São João de Sergipe é grandioso e inigualável, simplesmente uma delícia, repleto das mais distintas e legítimas manifestações, produzidas e legitimadas pelo povo, que mesclam folguedos populares e gastronomia típicos, com pratos à base de milho, amendoim à moda da casa, desfile de carroças, quentão, espadas, busca-pés e forró pé de serra, o legítimo som da alma sertaneja, imortalizado por Luiz Gonzaga. É uma virose que contamina a todos, nos quatro cantos do estado, seja nas grandes cidades ou nos pequenos povoados. As quadrilhas juninas são a apoteose dessa festança, e sua origem se perde no tempo, sendo o casamento do matuto, o motivo para a realização do evento, carregado de símbolos do quotidiano do tabaréu da roça, representados nos brincantes travestidos de padre, delegado, fazendeiro, vaqueiro, cangaceiro, beatas, moçoilas pudicas e varões em busca de xodó. E foi assim durante muito tempo. Mas, como disse o poeta, o novo sempre vem, e ele chegou na forma de grupos organizados, ligados a associações, glamourizados, com vestimentas luxuosas, um belo espetáculo estético e artístico, que se adequou aos padrões televisivos de alta definição, onde a profusão de brilhos e cores é fundamental. É um desempenho digno de calorosos e merecidos aplausos, o reconhecimento público de verdadeiros artistas anônimos, personagens de uma primorosa ópera popular. Como ressalva, discordo veementemente da adoção de enredos para as quadrilhas, como vem sendo usado no concurso da TV Globo, imposição de um regulamento mais conveniente a escolas de samba. O universo cultural nordestino é amplo e ilimitado como bem sabemos. A obra de Gonzaga, Patativa do Assaré, Ariano Suassuna entre outros é referencia nesse assunto, portanto a inserção de “temas” é uma interferência desnecessária e injustificada. As manifestações culturais são seculares e possuidoras de um contexto característico e ímpar, presentes nos caboclinhos e lambe-sujos, taieiras, bois-bumbás, cheganças, reisados etc. O foco das quadrilhas juninas deveria ser sempre o casório do tabaréu e suas variações, uma convivência entre modernidade e tradição, imperando sempre o bom senso, a originalidade, e raízes preservadas. É assim que penso.

domingo, 10 de junho de 2012

POÇO REDONDO: TERRA DE CANGACEIROS

A história de Poço Redondo mudou totalmente na época do cangaço. Antes um lugar tranqüilo, transformou-se praticamente em um campo de batalha. A história conta que 34 filhos de Poço Redondo acompanharam o bando de Lampião e foi na gruta de Angico, que hoje pertence ao município, que em 1938 Lampião e Maria Bonita, junto com outros nove cangaceiros, foram mortos por uma volante alagoana. De acordo com Alcino Alves, dois acontecimentos do cangaço marcaram profundamente a vida dos habitantes de Poço Redondo. “Nenhum lugar, na vastidão dos campos sertanejos, viveu agonia tão grande e provações tão gigantescas como o pequenino núcleo das brenhas do Riacho Jacaré”. Por duas vezes, toda a população do povoado abandonou suas casas com medo da violência dos cangaceiros e da volante. Esses acontecimentos ficaram conhecidos como ‘As Carreiras’. “Aquela vidinha sem novidades e aborrecimentos tinha se acabado. Todas as desgraças e horrores começaram a aparecer, atingindo cruelmente as famílias e habitantes daquele abandonado pedaço de Sergipe”. O primeiro assassinato em Poço Redondo aconteceu em 1932. Santo da Mandassaia foi morto cruelmente por Corisco. A população não entendia por que tiraram a vida de um homem tão pacífico. Assustados, todos os moradores do povoado deixaram suas casas e foram morar em Curralinho, um povoado à beira do Rio São Francisco. Em Poço Redondo não ficou um só morador. Os militares decidiram que a povoação abandonada seria um ponto estratégico para o combate ao cangaço, porque de lá poderiam chegar com mais facilidade a pontos escondidos da região. Dez soldados, comandados pelo sargento Alfredo, se estabeleceram no local e, sabendo disso, a população que havia se mudado para Curralinho volta para suas casas. Apesar da presença dos militares, os moradores de Poço Redondo continuaram morrendo. Em 1937, revoltados porque os soldados mataram o cangaceiro Pau Ferro, os bandidos assassinam os soldados Tonho Vicente e Sisi. Segundo conta o livro de Alcino Alves, os cangaceiros mandaram um recado garantindo que iriam invadir a vila de Poço Redondo. “O pavor tomou conta de todos. A tropa que guarnece no lugarzinho se acovarda. Sem que ninguém esperasse, os militares que trabalhavam no povoado tinham que se apresentar imediatamente no quartel de Propriá. Apavorados pela falta de segurança, os moradores se reuniram e decidiram deixar novamente o povoado, voltando para Curralinho. Talvez um caso único na história do cangaço e na vida da gente sertaneja”. Em 1938 choveu muito na região. “Aquela vidinha às margens do Velho Chico estava por demais enfadonha e maçante. Eles precisavam plantar, porém as roças ficavam nos arredores de Poço Redondo. Alguns decidiram se arriscar. Em junho desse mesmo ano, perto do Curralinho, no riacho do Angico, o incrível Lampião caiu, vencido pelas balas da volante do tenente João Bezerra da Silva. O cangaço morreu. O povo sofrido e desterrado de Poço Redondo não tinha mais o que temer. As famílias podiam retornar e reconstruir o arruinado povoado que tanto amavam”. FONTE: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=606921

TOBIAS BARRETO, UM CONDOEIRO.

autor: Poeta Jorge Henrique-Nossa Senhora da Glória, SE No pó que habito não terei as rosas, As doces preces que os felizes têm; Pobres ervinhas brotarão viçosas, E o esquecimento brotará também". (Pressentimento, Tobias Barreto, 1868.) Tobias Barreto foi um poeta que não recebeu, necessariamente, o reconhecimento que merecia. Menosprezada pela crítica, sua obra poética não foi explorada o bastante, tampouco evidenciou-se sua qualidade estética. É necessário que se revele ao público esta boa produção, que se revejam posições críticas a seu respeito e que se faça justiça. Tobias Barreto de Menezes (07-06-1839/26-06-1889), mestiço, pobre, nasceu na vila de Campos, província de Sergipe, e faleceu em Recife, Pernambuco. Bacharel em direito pela Faculdade do Recife, foi jornalista, advogado e deputado provincial. Destacou-se no campo da filosofia por sua atuação polêmica contra o conformismo retórico. Questionou a concepção de física social do positivismo, relacionou o conceito de cultura à constituição de normas para a compreensão do social e do humano. Entendia a metafísica como teoria do conhecimento divergindo profundamente do positivismo. Admitia a liberdade humana como realidade não empírica. Defendeu o liberalismo na política, a emancipação feminina e a libertação dos escravos. Foi uma figura central na Escola do Recife, disseminando o pensamento filosófico alemão no Brasil que, naquela época, sofria forte influência da cultura francesa. Certamente, foi um importante pensador brasileiro no século XIX. Publicou Ensaios e estudos de filosofia e crítica (1875), Dias e Noites (1881), Estudos alemães (1883), Menores e Loucos (1884), Discursos (1887) e Questões vigentes de filosofia e direito (1888). O restante de sua obra, dispersa em jornais, foi reunida em três edições de Obras completas, em 1925, 1963 e 1989. Dias e Noites foi seu único livro de poesias e, pelo que sei, teve sete edições. O que observo nos estudos que se fizeram até o momento sobre sua obra é que boa parte dos críticos classificam-no como um grande pensador, filósofo e revolucionário das idéias, não como poeta. Realmente o foi, leve-se em conta que a maior parte de sua produção tenha tido cunho filosófico, conta-se apenas um único livro de poesias. Entretanto, ao contrário de outros autores de “livro único”, como o paraibano Augusto dos Anjos, que tiveram seu nome registrado na história literária brasileira, Tobias Barreto é sempre colocado num segundo plano. Sua obra, quando mencionada por alguns críticos ilustres, ocupa pouquíssimas linhas em que se delineiam comentários não muito amistosos. José Veríssimo (1) chega mesmo a afirmar que sua educação roceira e rudimentar fazia sobressair-lhe nos textos mais o aspecto rústico do que o letrado de sua personalidade, o que justificaria sua predileção pela vulgaridade, que não raro chegava ao chulismo da expressão. Afrânio Coutinho(2) afirma que sua produção lírica descai para o mau gosto e para a banalidade, que Dias e Noites (1881) nada vale e ninguém se lembraria de Tobias Barreto, não fossem as apologias de seu amigo Sílvio Romero. Sugerindo ainda que alguns de seus textos nada mais eram que plágio de poesias de Casimiro de Abreu. E ainda, além disso, quase sempre a crítica coteja sua produção com a do poeta baiano Castro Alves colocando-se em evidência esta em detrimento daquela. Não pretendo aqui, por puro bairrismo, supervalorizar a obra do sergipano encontrando-lhe forçosamente traços de genialidade turvados pelo visível preconceito a ele dirigido pela crítica. Tampouco colocá-lo nos píncaros da glória como fazem, o mais das vezes, com o seu contemporâneo baiano. Busco, sobretudo, uma reflexão equilibrada sobre o real valor literário que pode ser atribuído a vários poemas seus e, de certa forma, pretendo, mesmo que de maneira incipiente, dissipar a densa nuvem de segregação que se instaurou sobre sua obra poética, obscurecendo-lhe a importância no cenário literário brasileiro. Talvez o primeiro contato com a poética tobiática não pareça despertar no leitor a sensação de grandiosidade e altivez que se nota em alguns poemas de Castro Alves ou de Gonçalves Dias. Entretanto, “genialidade” não é algo que se possa requerer de nenhum artista, tampouco constância. Os grandes nomes de nossa Literatura não produziram somente obras-primas. Uma análise criteriosa (talvez tendenciosa) de qualquer grande obra quase sempre termina por encontrar-lhe o que se poderia chamar, levianamente, de falhas. Houve os que, pretensiosamente, encontraram-nas em Os Lusíadas! É mister, portanto, concordar-se que há nelas textos a que se possa atribuir valor literário e outros desprovidos deste. O que se percebe nitidamente em determinados críticos é uma predisposição gratuita a depreciar os poemas de Tobias Barreto e uma mesma predisposição a supervalorizar poemas outros de outros autores. O poema Ano Bom (3), por exemplo, é uma amostra de pobreza poética, ausência de lirismo e, talvez, chulismo de expressão. Parece não ter havido nenhuma outra preocupação formal, tão somente a de rimar o final dos versos. O poema está distribuído em doze estrofes de quatro versos à maneira das quadras populares, com rimas somente no 2º e 4º versos de cada estrofe, mantendo-se o 1º e 3º versos ímpares. Estranhamente ao que estava em voga na época (a preferência por versos livres e brancos), o texto é decassílabo. Em seus versos, repletos de um prosaísmo extremo, há quase ausência de conotação: Chega a viola, o único pecúlio De um dos muitos escravos da fazenda: Mas falta arame; manda-se um moleque Buscar depressa um carretel na venda. Volta o emissário; a coisa está completa; E o sertanejo afina o instrumento. (...) Além de sua linguagem, em alguns momento, beirar o mal-gosto: Nem sequer sabe dar uma embigada!... Salva-se no texto a temática que, segundo o título e a data de sua criação, sugere uma festa de Reveillon aristocrática (que pode ser percebida pela presença do piano – instrumento incomum nas camadas sociais mais modestas) cuja harmonia é interrompida pela presença inusitada de um sertanejo rudemente caracterizado que pede uma viola – instrumento representativo da camada popular – para demonstrar sua cultura. A oposição entre o aristocrático e o popular, que deixa transparecer o preconceito e a discriminação entre os dois extremos da sociedade, consiste numa abordagem mais equilibrada e reflexiva das questões sociais, sem apelos a idealizações, característica notória de uma poesia mais madura da fase condoreira do nosso Romantismo. O que não se pode, entretanto, é afirmar que as poesias de Tobias Barreto são chulas ou grosseiras tomando-se por parâmetro um único poema, ou alguns menos burilados. Castro Alves produziu também, se não grosserias, ao menos poesias sem poeticidade, prosaicas ou simplesmente descritivas e nem por isso rotulam-no de poeta medíocre. Tobias Barreto, a exemplo de qualquer outro poeta, produziu também seus textos medíocres, contudo, em sua antologia podemos destacar composições dignas de figurar em qualquer compêndio de Literatura Brasileira ao lado de outros grandes nomes. Veja-se, por exemplo, Eu Amo o Gênio (4). Um lirismo ímpar e envolvente é trabalhado em cinco quartetos decassílabos, também à maneira de quadras populares, com rimas apenas no 2º e 4º versos de cada estrofe, trazendo o 1º e 3º versos ímpares, traço marcante na produção do vate sergipano. A musicalidade presente no texto, que justifica o subtítulo Modinha deixa evidente não somente seu estro lírico, como também sua profunda habilidade em adequar os aspectos formais aos aspectos temáticos, utilizando estruturas funcionais, o que comprova seu domínio sobre as técnicas de produção do artefato poético. Não parece haver chulismo de expressão, tampouco mau gosto ou banalidade nos fragmentos que se seguem: (...) Há sempre um gozo no correr das lágrimas, Há sempre um riso no murchar da flor... Quando sublime de sofrer, um ‘alma Rompe dos prantos o sombrio véu. São glórias tuas, virginais desmaios, Quedas de rosas nos jardins do céu. Percebe-se, na elaboração do poema, a maestria com que trabalha as oposições luz/trevas, Deus/sofrimento. Refletindo sobre o efeito catártico deste, sobre o júbilo divino pela redenção das almas. Aqui ainda temos um Tobias menos céptico, menos contestador, contava apenas vinte anos. Mesmo assim, é notória sua habilidade e sua erudição. Procedimento reflexivo ausente, por exemplo, na produção do poeta Casimiro de Abreu quando aborda temas semelhantes, repleta de superficialismos, clichês e apelos sentimentais lúdicos desprovidos de uma abordagem mais profunda: Que pode haver maior do que o oceano, Ou que seja mais forte do que o vento?! – Minha mãe a sorrir olhou pr’os céus E respondeu: - “Um ser que nós não vemos “É maior do que o mar que nós tememos, “mais forte que o tufão! Meu filho, é – Deus!(5) Isto parece contrariar a sugestão de plágio, haja vista a erudição, a superioridade formal, o tom grandiloqüente e inquiridor e a lucidez do sergipano. Há em Tobias Barreto uma sensibilidade poética capaz de construções líricas que conseguem renovar a sensação do inusitado já adormecida em metáforas e temas gastos como é o caso de O Beija-flor (6), veja-se: E a fresca rosa orvalhada, que contrasta descorada do seu rosto a nívea tez, beijando as mãozinhas suas, parece que diz: nós duas!... e a brisa emenda: nós três!... Entretanto, talvez sua maior força resida em sua veia filosófica. Sua grande erudição permite-lhe abordar de forma estética notável temas viscerais da condição humana, a exemplo de Escravidão (7). O texto é composto de duas oitavas com esquema rímico fixo (ABBCDEEC) em redondilha maior, ou seja, há um retorno à estrutura medieval, característico do estilo Romântico. Sua temática, contudo, além de questionar a estrutura escravista do regime monárquico em vigência, opondo-lhe a República e a Abolição, procede a uma reflexão filosófica profunda acerca da Divindade dogmática como instituição mantenedora das desigualdades sociais, e conivente com a exploração do homem pelo homem: Se é Deus quem deixa o mundo Sob o peso que o oprime, Se ele consente esse crime, Que se chama escravidão, Para fazer homens livres, Para arrancá-los do abismo, Existe um patriotismo Maior que a religião. Encontramos um eu-lírico céptico e questionador de todos os dogmas religiosos que não se furta a apontar as falhas Divinas: (...) Nesta hora a mocidade Corrige o erro de Deus. Postura que se mostra muito mais eloqüente e incisiva em Ignorabimus (8) (convém transcrever o soneto completo): Quanta ilusão!... O céu mostra-se esquivo E surdo ao brado do universo inteiro... De dúvidas cruéis prisioneiro, Tomba por terra o pensamento altivo. Dizem que o Cristo, o filho do Deus vivo, A quem chamam também Deus verdadeiro, Veio o mundo remir do cativeiro, E eu vejo o mundo ainda tão cativo! Se os reis são sempre os reis, se o povo ignavo Não deixou de provar o duro freio Da tirania, e da miséria o travo, Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio, Se o homem chora e continua escravo, De que foi que Jesus salvar-nos veio?... Encontramos sua forma mais sublime em O Gênio da Humanidade (9). Composição distribuída em sete estrofes de dez versos, com esquema rímico (ABABCCDEED), em redondilha maior. Mais uma vez consegue harmonizar os aspectos formais aos temáticos numa composição de grande densidade poética. Sua musicalidade acentuada se distribui num ritmo que, ao longo do poema, parece que se vai tornando mais intenso, assumindo na segunda metade uma conotação quase dramática que produz no leitor uma espécie de efeito catártico. O sergipano mergulha profundamente em movimentos reflexivos que demonstram sua erudição filtrada, é claro, por sua sensibilidade e sua habilidade artística que lhe permitem aproximar questões fundamentais para a humanidade à plasticidade estética da poesia: Sou eu quem assiste as lutas Que dentro d’alma se dão, Quem sonda todas as grutas Profundas do coração: Quis ver dos céus o segredo; Rebelde, sobre um rochedo Cravado, fui Prometeu; Tive sede do infinito, Gênio, feliz ou maldito, A humanidade sou eu. Não há, no entanto, uma unicidade de pensamento poético ao longo da obra, o que denota que não houve uma pretensão de fazer uma proposta poética definida. Daí encontrarmos posturas contraditórias em relação a determinados temas. Contudo, isso não lhe diminui o valor, apenas mostra que suas poesias foram compostas isoladamente e só depois coligidas para a publicação. No poema Pressentimento (10), por exemplo, não mais encontramos um sujeito lírico céptico, que afronta a Divindade exigindo-lhe, ao menos, resignação (11), mas alguém cansado, de quem a fé vai-se desvanecendo no decurso da jornada: Sofrendo, aos poucos minha fé se apaga Ao longo de quatro estrofes de oito versos, o sujeito lírico se deixa esvair em notas de pessimismo e lamentações, bem à moda dos poetas da segunda geração, na tentativa de evadir-se para a morte. Caracteriza sua existência como um martírio que o oprime e que se lhe opõe aos ideais: Meu Deus!... não mais este laurel de espinho, Não mais a dor, que o coração devasta; Minha alma é farta de martírios... basta! Tudo conspira para o meu tormento; Estranha nuvem denegriu-me a sorte, A exemplo do que diz Vicente de Carvalho: (A felicidade) Existe, sim: mas nós não a alcançamos/Porque está sempre apenas onde a pomos/ E nunca a pomos onde nós estamos.(12), o “eu”, atormentado pelas limitações que lhe são impostas pela existência, localiza sua realização num outro plano, que não seja a realidade que se lhe apresenta, e suplica a Deus que o deixe partir: Deixai esta ave procurar seu ninho. Entretanto, fica explícito no poema o sentimento da injustiça sofrida pelo “eu”. Ser de quem a vida privou da sorte, de quem foram usurpadas oportunidades ou possibilidades de realização. Note-se a oposição que é feita no 5º e 6º versos da primeira e da quarta estrofes: No meu sepulcro não terei as rosas, As doces preces que os felizes têm; No pó que habito não terei as rosas, As doces preces que os felizes têm; E numa espécie de refrão de vaticínio que é repetido ao final de cada estrofe: Pobres ervinhas brotarão viçosas, E o esquecimento brotará também. É como se o “eu” já vivesse esquecido em vida e o pressentisse em morte. É como se sempre fosse colocado em segundo plano, sempre preterido em detrimento de outrem. Contudo, vaticina: Pobres ervinhas brotarão viçosas, como quem diz: Minha semente foi lançada e, embora timidamente, germinará! Curva-se, contudo, diante de algo mais contundente: ...o esquecimento brotará também. Algo que, possivelmente, sufocará suas ervinhas. É, no mínimo, estranho que tais procedimentos poéticos tenham passado despercebidos aos olhos da crítica. Se sua popularidade não alcançou o nível nacional como a de seu contemporâneo baiano, talvez seja pelo fato de Castro Alves ter partido do Recife para o eixo Rio-São Paulo aos vinte e um anos de idade (em pleno auge de sua produção) com recomendações do ilustre José de Alencar. Enquanto Tobias Barreto permaneceu restrito ao cenário pernambucano. Se não se pode encontrar na obra poética do sergipano – como já foi dito – traços de genialidade, ao menos se deve reconhecer que seu estro poético não está aquém do dos poetas de sua época. Repito: genialidade não é algo que se possa exigir de artista algum. Se seu nome não é divulgado ou reconhecido como deveria e merecia, talvez pela hegemonia imposta por parâmetros sulistas em relação à produção cultural nacional e pela tendência, não sem pretensões, de se lhe depreciar a obra em favor das obras de autores outros. Urge, ao menos, que se reconheça sua importância no cenário literário nacional, se não como gênio, ao menos como o precursor do condoreirismo que fez de Castro o reconhecido gênio; como precursor de novas idéias mais realistas. Busque-se mostrar sua boa produção. Que seja apresentada ao público de nossos dias e que o veredicto popular se faça valer. Que se revejam posições críticas. Que se debrucem sobre seus textos novos críticos. Que se lhe faça justiça.

BACAMARTEIROS DE CARMÓPOLIS

Grupo folclórico a tradicional do município de Carmópolis, mais precisamente do povoado Rancho, que mais tarde deu origem ao município. O grupo chamado Batalhão de Bacamarteiros era composto por trabalhadores de canaviais que não tinham condições financeiras de comprar fogos de artifício. Além dos tiros, que chamam muita atenção durante todo o cortejo, também fez parte do ritual um repertório baseado no cancioneiro popular. O grupo dispara os tiros de bacarmartes ao som das rimas: “quero ver carvão queimar”, e “menina bonita, faceira, dengosa, quer ir mais eu ‘vamo’, quer ir mais eu ‘vamo’ embora”. A cantoria é acompanhada por instrumentos como o ganzá, pífano, cuíca, pandeiro e reco-reco. Os bacamarteitos têm como padroeiros do grupo São João e São Pedro. Participam da festa homens, mulheres e até crianças. Reforçando assim a tradição passada de pai para filho. A maior parte dos componentes é composta por moradores do povoado Aguada. A manutenção desta tradição é fundamental para a cultura de um povo, que precisa e deve valorizar as coisas da sua terra. Fonte: Cinform

CARNAVAL DO CARRO QUEBRADO

Corria o ano de 2005, quando cinco amigos – Emmanuel Dantas, Hugo Martins, José Marins Filho, Sérgio Pereira e Jackson Silva –, acostuma-dos a se reunir no Bar da Macaxeira, decidiram fundar a Confraria do Carro Quebrado. Para quem desconhece, Carro Quebrado é o antigo nome do bairro São José e na tentativa de promover ações culturais e sociais na comunidade, foi que o quinteto resolveu resgatar o Carnaval de Rua, embalado pelas marchinhas e muito frevo, que tanto alegrou as famílias da capital sergipana no passado. Mesmo sem muitos recursos, mas contando com o apoio da comunidade, a Confraria conseguiu realizar a primeira edição do Carnaval do Carro Quebrado em 2006. O radialista Emmanuel Dantas lembra que o orçamento da primeira festa foi pífio – cerca de R$ 6 mil – porém o suficiente para animar os foliões e conquistar a adesão de empresários e do poder público, que dois anos depois, já estavam apoiando a festa. A 7ª edição do Carnaval do Carro Quebrado, prévia da festa momesca na capital sergipana, aconteceu este ano, no mesmo local já denominado Largo do Carro Quebrado, prestigiando bandas sergipanas, que tocam somente frevo e marchinhas. Com o tema permanente “Carnaval Cultural do Carro Quebrado- Quem Conhece, Jamais Esquece!”, a sétima edição homenageou à única mulher que transitava livremente pela Confraria, a senhora Terezinha dos Anjos, mais conhecida como “Têca”, que foi alçada a Rainha do Carnaval do Carro Quebrado, ainda em vida. Após dois anos de sua morte, sua figura é lembrada através da boneca gigante “Têca”, confeccionada pelo artista plástico Belém. “A Têca era a pessoa que fazia o elo da comunidade com a Confraria. Ela eraresponsável pela arrecadação das doações da população interessada em fomentar o Carnaval do Carro Quebrado e sensibilizou os moradores a contribuir com a festa, principalmente, nas primeiras edições, quando não contávamos com tantos patrocinadores”, explica Érico Melo, atual presidente. Segundo o pernambucano José Marins Filho, presidente da Confraria do Carro Quebrado em 2006 e uma das testemunhas do nascimento do Galo da Madrugada, acredita que no futuro, o Carnaval do Carro Quebrado ganhe uma dimensão inimaginável. “Estamos trabalhando para isso, para que a nova geração abrace a causa e consiga, quando não estivermos mais à frente da Confraria, levar adiante esse sonho de resgate de uma tradição”.
Caboclinhos e Lambe-sujos: tradição laranjeirense. A cidade de Laranjeiras é palco de uma das mais genuinas e originais manifestação cultural,legitimada e produzida pelo povo. Caboclinhos e Lambe-sujos revivem de forma espontanea pelas ruas seculares do municipio, os embates entre indios cativos e negros fugidos dos engenhos. Os reis, feitores caciques, pagés e outros brincantes que participam dessa fantastica festa teatral e lúdica, repleta de significados, são as autoridades maxímas das ruas e becos, alvo das atençôes das centenas de lentes que os enfocaram de todos os angulos, ajudando a divulgar ainda mais o evento. Dentre todas as manifestações populares que lá sobrevivem de forma heróica, esta é a que conta com participação maciça da população atraindo pesquisadores de varias vertentes e turistas de toda a região, até de outros estados. Os estudiosos não sabem exatamente quando esse folguedo começou, mas é evidente que tomou dimensôes extraordinarias. Sob o comando do mestre Zé Rolinha , que tive o prazer de conhecer e prosear durante o último encontro cultural de Laranjeiras, os Caboclinhos e Lambe sujos não tem donos, e os seus líderes devem conscientizar-se da importancia que têm como preservadores de raízaes e formadores de identidade. Caboclinhos e Lambe sujos, atores de uma ópera popular.Patrimonio imaterial de Sergipe.

JORGE AMADO EM SERGIPE

AUTOR: Thiago Fragata* Sergipe faz parte da vida e obra de Jorge Amado. Escritores dedicaram textos a relação telúrica, sentimental e até familiar do escritor baiano. Rui Nascimento, por exemplo, escreveu Jorge Amado: uma cortina que se abre (2007) rememorando a presença do escritor em Estância nos idos de 1935 e 1937/1938. Mas qual a relação do autor de Gabriela, Cravo e Canela especificamente com São Cristóvão, ex-capital e afamada quarta cidade mais antiga do Brasil? Responder à pergunta encerra o objetivo desse artigo dividido em duas partes. Jorge Amado nasceu em Itabuna, Bahia, no dia 10 de agosto de 1912. Filho de Eulália Leal e de João Amado de Faria, natural de Estância que cedo migrara para Bahia. O ramo da família paterna viveu boa parte da sua experiência entre esse município, Itaporanga e Aracaju. Ainda assim, consideramos factível destacar São Cristóvão na vida e literatura amadiana. O segundo romance de Jorge Amado, intitulado Cacau, escrito aos 20 anos, desvela São Cristóvão em 1933, ano de sua publicação. “Romance proletário”, como o próprio autor definiu, trata da vida acidentada de José Cordeiro, conhecido como Sergipano, filho do proprietário da Fábrica de Tecidos de São Cristóvão. Após a morte do pai, vai trabalhar como operário na fábrica gerenciada pelo tio. Demitido injustamente, migrou então para Bahia, indo trabalhar nas plantações de cacau. Exemplar da literatura engajada do recém-filiado membro do PCB, a obra em tela impressiona pela carga de emotividade e requinte poético. Vale a pena transcrever os parágrafos que versam a quarta cidade mais antiga do Brasil: “A cidade subia pelas ladeiras e parava lá em cima, bem junto ao imenso convento. Olhando do alto, via-se a fábrica, ao pé do monte pelo qual se enroscava a cidade como uma cobra de uma só cabeça inúmeros corpos. Talvez não fosse bela a velha São Cristóvão, ex-capital do Estado, mas era pitoresca, pejada de casas coloniais, um silêncio de fim de mundo, as igrejas e os conventos a abafarem a alegria das quinhentas operárias que fiavam na fábrica de tecidos. Acho que meu pai montara a fábrica em São Cristóvão devido à decadência da cidade, à sua paz e ao seu sossego, triste cidade parada que devia apaixonar os seus olhos e o seu espírito cansado de paisagens e de aventuras”. Embora não tenha nominado o genitor ou a fábrica têxtil, desvelamos o quadro da realidade da ex-capital sergipana daquele contexto. Em 1914 foi inaugurada Fábrica Têxtil Sam Christovam S.A., seus proprietários eram Felix Pereira de Azevedo e Othoniel Amado. Sobre este Amado existe uma situação nebulosa relacionada ao nome do romancista talvez um possível parentesco. Cito apenas memória de Junot Silveira, amigo e editor do jornal A Tarde, edição de 11/7/1993: “figura maior do meio social da cidade [São Cristóvão] era o Dr. Pedro Amado, parente de Jorge Amado, proprietário de uma fábrica de tecidos”. Vejamos como Jorge Amado descreve os sobrados da praça São Francisco, Patrimônio da Humanidade reconhecido pela UNESCO, no dia 1/8/2010. Também, o orfanato da cidade instalado no Lar Imaculada Conceição, antiga Santa Casa de Misericórdia de São Cristóvão: “Nós morávamos então num enorme e secular sobrado, ex-morada particular dos governadores, uma pesadíssima porta de entrada, as janelas irregulares, todo pintado de vermelho, grandes quartos, nos quais eu e Elza nos perdíamos durante o dia brincando de picula. À noite, por brinquedo algum entraríamos num deles, pois temíamos as almas vagabundas do outro mundo, almas penadas que assobiavam e arrastavam correntes, segundo a veracíssima versão de Virgulina, preta centenária que criara mamãe e nos criava agora. Ao lado da nossa casa ficava o ex-palácio do governo, quase a cair, transformado em quartel onde alguns soldados habitavam, sujos e preguiçosos. Em frente, o orfanato, seis freiras e oitenta meninas, filhas de operários e pais ignorados. (...) As casas, todas antiquadas e atijoladas, estendiam-se pela praça do convento e equilibravam-se pelas ladeiras”. Pertinente identificar os sobrados. O primeiro trata-se da atual Casa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que nenhum documento comprova a função de “residência de ex-governadores”, tampouco Ouvidoria. Pesquisa de 2005 revelou que o sobrado foi construído no século XVIII pelo tenente-coronel Francisco Xavier. Teve ao longo do dezenove, como proprietários, o senhor de engenho Luiz Francisco Freire e o barão Felisberto de Oliveira Freire. Quanto ao outro sobrado, trata-se do atual Museu Histórico de Sergipe. Cumpre destacar que este foi “ex-palácio do governo”, entre 1823 e 1855, perdendo essa função com a Mudança da Capital. No início da década de 1930, o sobrado havia realmente se transformado em quartel da polícia. O que era a fábrica no romance que assume o olhar do trabalhador nas relações sociais? Narrado na primeira pessoa pelo protagonista, lê-se: “A fábrica era um caixão branco cheio de ruídos e de vida. Setecentos operários, dos quais quinhentas e tantas mulheres. Os homens emigravam, dizendo que “trabalhar em fiação só pra mulher. Os mais fracos não iam e casavam e tinham legiões de filhas, que substituíam as avós e as mães quando já incapazes abandonavam o serviço”. A obra explicita a predileção no “mundo da fábrica” pelo trabalho feminino e infantil justificado pelos baixos salários. A cidade fabril fotografada no romance relegava aos homens dois destinos: os cafezais de São Paulo ou as plantações de cacau de Ilhéus, da Bahia. Assim, depois de sua demissão, Sergipano prepara as malas e embarca no navio Murtinho, de Aracaju a Salvador. A leitura de Cacau revela um jovem escritor “sensibilizado com as fortes desigualdades sociais do país” - ele havia se filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1932. Ademais “inicia o ciclo de livros que retratam a civilização cacaueira”, seguido por Terras do sem-fim (1943), São Jorge dos Ilhéus (1944), Gabriela, cravo e canela (1958) e Tocaia Grande (1984). As páginas de Cacau representam, indiretamente, a prova da presença de Jorge Amado em São Cristóvão. Ele escreveu boa parte da ficção em Aracaju em 1932, mas retrata fielmente a cidade histórica. Sua poeticidade faz contraponto com a crítica social que expõe a injustiça na fábrica de São Cristóvão e na fazenda de cacau da Bahia. Vesta Viana: amiga de Jorge Amado e Zélia Gattai Jorge Amado semeou livros e amigos. Mas falando um pouco da sua biografia e Sergipe, o autor se casou em 1933, com Matilde Garcia Rosa, na cidade de Estância. Desse primeiro casamento nasceu Eulalia Dalila, falecida aos 15 anos. A separação do casal aconteceu em 1944. Autor de Cacau - seu primeiro livro traduzido - conheceu Zélia Gattai em 1945, quando organizava o I Congresso Brasileiro de Escritores. Com ela teve dois filhos, João Amado, 1947, e Paloma, 1951. Juntos, o casal de escritores conheceu o mundo. Em São Cristóvão cultivaram uma amizade duradoura com Maria Vesta Viana. Reservamos espaço para evocar a artista sancristovense. No início de 1970, Jorge Amado e Zélia Gattai passearam pelo nordeste e não esqueceram Sergipe. A História e a cultura da vetusta ex-capital fascinaram o casal que resolveu degustar os ares e os acepipes. Num assédio à casa n. 54, da rua Frei Santa Cecília, onde a dona Noêmia Soares Viana comercializava seus doces típicos, descobriram uma menina pintando casarões e igrejas centenárias em meio ao florido jardim. Na ocasião, a jovem artista presenteou o escritor com uma tela. De volta a Salvador, durante entrevista sobre as impressões da viagem, Jorge Amado comentou a respeito da “jovem artista, meiga, ingênua como os traços retangulares de sua pintura primitivista que ganhou sua atenção, lá na antiga São Cristóvão, cidade retratada em suas linhas e cores”. As considerações do escritor acerca da menina sancristovense geraram um frisson na imprensa baiana, massificado após o roubo da obra que havia recebido de presente da artista. O caso não foi levado à justiça mas teve um desfecho inusitado. O próprio Jorge Amado esclareceu o sumiço do quadro de sua residência, num tom humorado do seu roteiro de viagem Salvador-Aracaju: “Passe na casa de Maria Vesta Viana e admire sua pintura primitiva, compre um dos seus quadros e leve consigo os conventos e igrejas de São Cristóvão, na ingênua criação da môça sancristovense. Tive um quadro de Vesta, logo roubado por Dorival Caymmi que coleciona pintores primitivos às custas dos amigos”. Diante da repercussão do fato, uma brincadeira, na edição especial da Revista Manchete, Jorge Amado veiculou a importância de conhecer São Cristóvão, em Sergipe, seu acervo arquitetônico e uma artista: Vesta Viana. Assim, 1970 figurou como ano-chave na vida da “artista primitivista”, segundo conceito de Jorge Amado. Alguns especialistas cunharam de primitivista, original, desprovida de perspectivas e academicismo, a arte naïf. A propósito, Philipe Jean Marie Meilhac atenta que: “irmana-se, até certo ponto, a arte naïf com a arte popular. Em ambas, o artista projeta na sua criação a mitologia peculiar a sua cultura, a sua terra, a sua gente”. Os fatos citados oportunizaram o sucesso de Vesta Viana. Com o advento do Festival de Arte de São Cristóvão (FASC), que teve sua primeira edição em setembro de 1972, ela teve sua obra consagrada. O FASC, momento e epicentro das expressões artísticas do Brasil, virou cenário onde a artista nativa e suas obras desfilaram com desenvoltura. Em discursos de abertura, exposições coletivas e individuais, debates e cursos ministrados, a artista naïf brilha, pinta, acontece nas décadas de 1970 e 1980. Mesmo sem formação acadêmica, Vesta Viana teve o reconhecimento de especialistas e críticos que fizeram de sua arte objeto de pesquisa. Antônio Olinto e Zora Seljan, por exemplo, chegaram a encomendar de Londres os quadros de Vesta Viana. Colecionadores como o adido cultural do Brasil em Paris, Clovis Graciano, ostentava fascínio pela obra da artista sergipana. Para saciar a fome da clientela Vesta Viana montou ateliê em sua casa. Daí seus quadros difundiram-se pelo mundo, entre os anos de 1972 e 1986. A ajuda de Jorge Amado e Zélia Gattai foi importantíssima. Por intermédio deles sua obra integra o acervo do Museu de Arte Primitiva de Guimarães, Portugal. Diversas instituições culturais receberam seus quadros; na Europa, a França, a Espanha, a Inglaterra; na América, Os Estados Unidos e Canadá. Na cidade que tematiza a obra de Vesta Viana, o mecenas não conheceu apenas igrejas e sobrados, nem saboreou apenas doces e licores, também a peixada e o pirão de guaiamum. Conta Manoel Ferreira que o ilustre escritor almoçou no Bar Candangos e no restaurante do Cristo Redentor com extensa comitiva; gostava de trazer amigos para conhecer os encantos da cidade quatricentenária. O casal de escritores manteve intensa correspondência com a artista sancristovense. Com presteza, Vesta agenciava artesanato, doces e telas, a pedido ora de Jorge Amado, ora de Zélia Gattai. Da amizade fraterna sobraram fotos, exemplares da literatura amadiana, um epistolário e peças eloqüentes da aura e do fetiche do escritor. A relação Jorge Amado e São Cristóvão lembra Irmã Dulce. Ambos nasceram na Bahia e por uma circunstância ignorada por muitos, conheceram, vivenciaram e plasmaram a ex-capital sergipana em suas retinas e memórias. A cidade de 420 anos figura na vida dos dois na década de 1930, permanecendo até o ocaso. Disse Jorge Amado a respeito da ex-capital: “Há uma paz na cidade, uma atmosfera azul, uma doçura de vida”. Já Irmã Dulce afirmava que a Bahia deu pra ela a família e São Cristóvão, a certeza de sua vocação religiosa.

AO JUMENTO, COM CARINHO

Gilles Lapouge Está na hora de lembrar dos jumentos. Os jornais falam muito do Festival de Cannes, do aquecimento global, do naufrágio da Grécia, mas aos jumentos quase ninguém se refere. O cavalo é mais favorecido. É sempre o foco da atenção pois tem elegância, brilho. Domingo vai às corridas, onde caminha gingando como uma estrela de cinema. Os homens usam belas calças e as mulheres lindos chapéus para montar nele. O jumento não tem a mesma presença. É chamado de "burro" e de "asno". Palavras ofensivas. Tem cor de estopa. É desnutrido. Por que esse rosário de afrontas? Se eu fosse jumento, faria um motim. Brigitte Bardot falou recentemente dos jumentos, os do Brasil. Ela ficou furiosa ao saber que o Rio Grande do Norte, visando a criar uma nova fonte de renda, teria aceitado exportar 300 mil jumentos por ano para a China para nutrir as indústrias alimentícias e cosméticas desse país. Eu compartilho da cólera de Brigitte. A rarefação dos jumentos nos campos - no Nordeste brasileiro, no sul da França, mesmo na Palestina - sempre me pareceu uma desgraça. Fizemos tanta coisa juntos, eles e nós - as pirâmides, as minas, as rodas d'água, as catedrais, a agricultura... O jumento também transformou uma desvantagem em mérito. Ele sofre de um problema de vértebras: tem uma a menos. Mas, como é dono de um espírito dócil, aceitou esse infortúnio, que lhe dá pavor de correr e lhe tira o fôlego quando o dono o faz trotar. Na verdade, ele transforma essa fraqueza em força. Como suas vértebras dorsais são bastante desenvolvidas, seu dorso é saliente e seus rins são fortes. Essa constituição singular se ajusta à sela, de madeira ou de couro. Todas essa inferioridade e a maneira com que ele teve de assumi-la compuseram o destino do jumento. Ele não é bom para correr e não sabe galopar. Em compensação é ótimo para puxar charrete, mover as rodas que trazem a água para a superfície no deserto, carregar feixes de trigo e sacos de terra e pedra. É bom também para descer ao fundo das minas de carvão, onde, muitas vezes, de tanto viver no escuro, acaba ficando cego. O jumento participou de todas as aventuras do homem. Suou por nós. Perdeu seu fôlego por nós. Morreu sob nossos golpes. E, quando os engenheiros inventaram o motor de explosão, a moto, o trator e o caminhão, adeus jumento! Adeus, velho servidor! Vamos vendê-lo para a China para que as pessoas o comam. Nós o jogamos como se joga uma roupa esgarçada, uma gilete sem corte. Adeus, velho amigo, mas você não serve para mais nada! Gosto muito dos jumentos do Nordeste brasileiro. Venho testemunhando sua derrota há 40 anos. E vi esta aberração: motos ruidosas, nauseabundas, perigosas, substituindo jumentos para cercar os rebanhos, em meio a um atroz odor de combustível. Em 1974 fiz uma longa viagem pelo Nordeste do Brasil. Sozinho. Fui de cidade em cidade, ao acaso, segundo meu desejo, em ônibus que rodavam 10, 12 horas por dia. Os jumentos já começavam a desaparecer, mas ainda eram numerosos. Faziam parte da paisagem nordestina. Quando chegava aos vilarejos assolados pela seca, eu ia cumprimentá-los. Eles me lembravam aqueles jumentos que conheci e amei na minha infância, não no Brasil, mas na França, nas montanhas austeras e pedregosas da Provença. Eu falava com os jumentos de João Pessoa ou de Epitácio Pessoa. Temos boas lembranças em comum, os jumentos do Nordeste e eu. Hoje, quando atravesso esses lugares ermos, em meio à barulheira dos caminhões e das motos, procuro por todo o lado as orelhas, as belas orelhas sensíveis, e elas sumiram. Eu respirava seu odor. Olhava seus grandes olhos melancólicos e era como se um tapete mágico me conduzisse de volta aos tempos felizes da infância. Foi nessas longas noites no Nordeste que compreendi por que tanto amava os jumentos. Do outro lado do mundo, encontrei os mesmos animais, tão bonitos, tão fortes, tão resignados. Como seus congêneres da Provença, os pequenos jumentos do Nordeste se aproximavam de mim e cheiravam minhas mãos. Eles gostavam do meu cheiro, e eu do deles. Certas noites, nesse longo périplo solitário entre Salvador e Natal, Recife e Terezinha, sentia uma certa angústia pelo fato de estar só. Então ia ver os jumentos. Tínhamos este ponto em comum: detesto a solidão, os jumentos, também. Se um jumento está sem companhia, fica infeliz. Entedia-se a ponto de parecer que pode morrer de tédio. O jumento não é só corajoso e útil: também tem caráter. Apesar de sua cortesia e indulgência com relação às loucuras e vilanias dos homens, jamais transige em questão de princípios. Na Bíblia, uma jumenta impediu que seu senhor, o adivinho Balaam, bloqueasse a passagem do povo de Israel quando este se aproximava da Terra Prometida. Naquele dia, os homens estiveram muito perto do desastre. Se a jumenta não tivesse dado uns bons coices em Balaam, os judeus jamais teriam continuado sua epopeia e isso teria provocado uma grande confusão na Bíblia, na história religiosa e em toda a História. Teríamos que começar tudo do zero. E Deus, como iria se sair dessa? Em recompensa, o jumento teve o privilégio de aquecer com seu sopro o Menino Jesus na manjedoura. O jumento também teve a honra de servir de montaria para Cristo quando Ele entrou em Jerusalém, antes da Paixão. Jesus ficou muito emocionado e marcou o dorso do jumento com um sinal da cruz. Na Provença nós chamamos de "cruz de Santo André". Fiquei comovido ao encontrar nos jegues do Nordeste o mesmo sinal da cruz. O jumento é bem considerado pelos deuses. Enquanto os homens o condenam ao insulto, ao desprezo, à pancada e ao trabalho perpétuo, as sociedades religiosas têm consideração com ele. A história santa está repleta de jumentos. A Bíblia o cita 133 vezes, um recorde entre os animais. Em Josué, ficamos sabendo que o jumento foi montado por judeus da mais alta sociedade, príncipes e damas. Cada patriarca tinha seu jumento. Abigail, que vai ao encontro de David, sela seu jumento (Samuel, 25) Zorobabel, depois da Babilônia retorna a Jerusalém montado no dele. Sansão, quando 3 mil filisteus o atacam, usa uma queixada de jumento para revidar e os mata. O jumento vai do Velho Testamento para o Novo. Jesus escolheu um burrico, não um cavalo, para entrar em Jerusalém. Em Roma, os pagãos ridicularizavam a religião cristã por causa de sua amizade com os jumentos. Um pouco mais tarde, encontramos muitos místicos cristãos no Egito que se entregavam a penitências terríveis: viver sentados na ponta de uma coluna de pedra, numa árvore, quase imersos num pântano ou então se mantendo de tal modo imóveis que os pássaros faziam ninho em suas mãos. Os pagãos se divertem com esses fanáticos. E os chamam de "jumentos". É verdade que mesmo em países cristãos os jumentos foram às vezes maltratados. Na Espanha, quando Isabel, a Católica, mandava queimar uma feiticeira, esta era amarrada nua num burro para que, à pena de morte, se adicionasse o suplício de partir da vida no dorso de um animal desprezado e obsceno. Na França os professores durante muito tempo colocavam um chapéu de asno na cabeça dos maus alunos. Por toda parte o jumento foi relegado ao desprezo e à injúria. Ao longo da história (salvo nos países do Oriente Médio), ele esteve no mais baixo nível da sociedade. Pior: foi sempre o bode expiatório dos mais humildes, o doméstico dos domésticos, o escravo dos escravos, o proletário dos proletários. Alguns intelectuais foram em seu socorro. Victor Hugo escreveu, no fim da vida, um imenso poema glorificando o jumento. O grande historiador Michelet sublinhou o papel do burro na história dos homens, e o grande naturalista Buffon defendeu o jumento contra o cavalo. O filósofo da Renascença Giordano Bruno, último homem queimado pela Inquisição, em 1600, fez do jumento um modelo de espírito e erudição. Os sábios que acompanharam Napoleão Bonaparte no Egito, em 1798, montavam jumentos. Quando a tropa foi atacada pelos mamelucos, os oficiais franceses gritaram: "Protejam os jumentos no centro". No geral, pintores e poetas amam o jumento. Os cabalistas judeus descobriram que a palavra "jumento", em hebraico, tem as mesmas letras que a palavra "matéria". E concluíram que o jumento é "o mestre dos segredos do universo". Têm razão. O jumento entende tudo: se é idiota, é idiota como O Idiota de Dostoievski, o príncipe Muichkine - que é genial porque, se não compreende as coisas corriqueiras, compreende, por outro lado, as mais obscuras. O jumento sabe tudo. Ele não trota nas mesmas paisagens que nós. Apenas aparenta compartilhar nossos caminhos, quando na realidade está em outro lugar, vem de outro lugar, vai para outro lugar. Ele atravessa educadamente nossa geografia sem fazer ruído para não nos perturbar, mas na verdade não caminha no mesmo passo que nós. Somente os poetas compreenderam a nobreza do jumento. Na França, no início do século 20, Francis Jammes escreveu uma oração para eles. É tão bela e luminosa que eu vou citá-la: Prece para chegar ao Paraíso em Companhia dos Jumentos Quando for a hora de ir a vosso encontro, meu Deus, fazei com que seja num dia em que o campo esteja brilhando em festa. Pegarei meu bastão e pela grande estrada irei, e direi aos jumentos, meus amigos: sou Francis Jammes e vou para o paraíso, porque não existe inferno na terra do Bom Deus. Eu lhes direi: venham pobres animais queridos, que com um brusco movimento de orelhas se livram das moscas, dos golpes e das abelhas. Que eu apareça diante de Vós entre esses animais que amo tanto porque baixam a cabeça docemente e juntam as pequenas patas de uma maneira tão gentil que dá pena. Meu Deus, fazei com que eu chegue até Vós com esses jumentos. Fazei com que os anjos nos conduzam em paz pelos riachos ensombreados em cujas margens tremulam cerejeiras, e fazei com que nessa morada das almas, sob vossos divinos olhos, eu me assemelhe aos jumentos, cuja humildade e doce pobreza se refletirão na limpidez do amor eterno. Certamente, com o passar do tempo e dos milênios (ele está entre nós há 5 mil anos) o jumento começa a entender que as coisas não vão muito bem para ele, mas não se revolta. Sua tática é sutil. O cérebro humano não a alcança. O jumento é submisso e glorioso ao mesmo tempo, resignado e irredutível, escravo e soberano, vencido e vencedor. Ele dá cambalhotas nas primaveras onde não já não estamos. Encontrou obstáculos e os contornou. Ele se salvou do tempo. Sobre seus belos cascos, trota nas pradarias onde as horas não soam. Se o espancamos, ele nos olha com um olhar incrédulo e belo. Não fica com raiva. Tem pena de nós. Não nos culpa, só nos observa. Ele gostaria de nos ajudar a ser menos vingativos. E nos consola de nossas maldades. "Não se preocupe", parece dizer, arreganhando os beiços, "não é sua culpa. Você é assim, mas isso vai passar. É um mau momento, uma má eternidade. Depois, você vai ver, tudo será melhor." Durante a 1ª Guerra Mundial, em Verdun, inúmeros soldados foram mortos e enterrados. Inúmeros jumentos também foram mortos, mas não foram enterrados. Há alguns anos, um pintor de Auvergne (região montanhosa no centro da França onde há muitos jumentos), Raymond Boissy, manifestou sua indignação. E propôs que um monumento fosse erigido aos mortos, um monumento ao Jumento Desconhecido (como há em Paris o Túmulo do Soldado Desconhecido). É uma ótima ideia. Aqueles jumentos, o Exército francês os fez vir de barcos do Magreb, do Marrocos, porque os jumentos dessa região são pequenos, dóceis e muito fortes. Eram capazes de transportar 150 quilos de obuses. Rastejavam nas trincheiras levando munição para os soldados que se encontravam em casamatas e fortins. Claro, os alemães descobriram e seus artilheiros bombardearam os ventres dos pequenos jumentos marroquinos. Foi uma carnificina. Aqueles que sobreviveram e retornaram às linhas francesas, contentes de reencontrar seus senhores, estavam feridos. Então foram abatidos. 150 mil jumentos foram mortos em Verdun. O solo de Verdun está repleto de valas comuns de jumentos. Ali eram jogados os cadáveres desses animais tão gentis, suas pequenas coxas quebradas, as pequenas patas rígidas, seus olhos, tão belos, tão indulgentes, tão resignados. Como não chorar? / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

quarta-feira, 6 de junho de 2012

QUEM FOI JOÃO BEBE ÁGUA

“O seu feito grandioso Não se passou por banal Mas morrera obcecado Por um retorno irreal São Cristóvão nunca mais Seria a capital…” (Francisco Passos Santos – Chiquinho do Além-Mar) Por Joanne Mota Morador do quarteirão nº 19, da São Cristovão Capital, o lendário João Nepomuceno Borges nasceu em São Cristóvão, no ano de 1823, era filho do capitão Francisco Borges da Cruz e tinha um irmão de nome Silvério da Costa Borges. Sua escolaridade é desconhecida, mas sabia ler e escrever e exerceu durante muito tempo cargos de grande representatividade na sociedade. A história conta que João Bebe-água foi escrivão interino da Alfândega e Mesa de Rendas, de Santo Amaro; vereador; Juiz de Paz na cidade; fiscal da Câmara em 1872; e também foi “patrão-mor” da Mesa de Rendas da Barra da Cidade, hoje Barra dos Coqueiros. Foi o homem que arregimentou 400 homens em protesto contra a transferência da Capital para o povoado Santo Antônio do Aracaju. Historiadores destacam que essa figura, que se tornou folclórica, publicou trabalhos no Pasquim do partido sob pseudônimo de ‘Nunes Machado’. João escolheu este pseudônimo inspirado na Revolução Praieira, já que Nunes Machado era, à época, o principal ícone do partido liberal no Brasil, desde que fora assassinado a frente dos revoltosos da Rua da Praia, em Recife, na eclosão da Revolução Praieira, em 31/12/1848. Casou-se aos 50 anos, não temos ciência do nome da esposa, segundo o seu contemporâneo, Serafim Sant’iago, em publicação no ‘Annuario Christovense’, ele morreu viúvo. Durante os anos que sucederam a transferência da capital o “jacobino sancristovense”, como ficou conhecido, manteve o juramento de não pisar em Aracaju, período que observou piamente suas obrigações religiosas. Além disso, guardava sempre atrás da porta de sua casa foguedos que seriam usados quando a Capital voltasse a São Cristovão. Nepomuceno Borges era componente da Irmandade do Amparo dos Homens Pardos, frequentando a igreja regularmente. Nessa irmandade, ele exerceu quase todas as funções: foi sineiro, zelador, sacristão, tesoureiro, avalista e procurador. Sobre as suas peculiaridades físicas, a história conta que era de baixa estatura e um tanto gordinho; tinha a cor de um pardo amarelado em tom bilioso, cabelos amealhados; trajava jarreta e trazia sempre um lenço de rapé e uma catarina, como ele titulava uma figura preta feita de ponta de boi, onde guardava fumo torrado . Entre torrados e doses de aguardente que faziam parte do cotidiano de muitos naquela época, inclusive de Dona Maria Paiva Monteiro, mais conhecida como ‘Dona Marinete’, que cuidava da quitanda de seu pai, conheceu bem o João. Segundo ela, desde pequeno João Bebe-Água sofreu com o desprezo, inclusive de seu pai, e a transferência só foi mais um fato que contribuiria para a vida melancólica desta figura, fato que o levaria a se entregar ao álcool. No entanto, essa constatação não é universal, segundo historiadores a nominação “bebe-água”, foi conseguida graças a exibição da peça teatral “João Bebe-Água”, exibida na abertura do IV Festival de Arte de São Cristóvão (1975), de José Severo dos Santos e Alberto de Souza Oliveira. Sobre sua morte, existem várias histórias e controvérsias. Os autores modernos se atrapalham e não conhecem ao certo como discorrer sobre esse assunto. De acordo com pesquisa realizada por João Pires Wynne, o enterro desta figura data de 1896, por outro lado, Sebrão Sobrinho chegou a assegurar que o rebelde de São Cristóvão morrera em 1890. O historiador Pedro Machado, que ignora o ano de morte, apenas localiza sua última residência e destaca que João Bebe-Água morreu em sua residência ainda existente em 1938, disjunta e construída ao da ladeira de São Francisco, perto do convento deste santo. Contudo, todos os historiadores concordam com uma coisa: João Bebe-Água morreu pobre, sozinho e desacreditado, mas nunca desistiu do sonho de ver São Cristovão voltar a ser Capital e tampouco saiu de São Cristovão para conhecer a nova Capital que crescia em Aracaju. Fontes: ‘João Bebe-Água o rebelde de São Cristóvão’ – De Autoria de Francisco Passos Santos – Chiquinho do Além-Mar

ZÉ ROLINHA, MESTRE DA CULTURA POPULAR

O município de Laranjeiras é conhecido pelos sergipanos como o berço da cultura popular; as danças, folguedos e crendices populares se destacam de modo peculiar, através de um povo que conhece e valoriza as tradições que refletem, interpretam, e até se reinventam os costumes e as origens das comunidades onde surgiram. É por conta desse destaque da Cultura popular que o mestre da Chegança e dos Lambe-sujos, José Ronaldo de Menezes (Zé Rolinha), está embarcando no próximo sábado, (12), rumo à Espanha, onde irá ministrar palestra para estudantes e pesquisadores da Universidad de Alicante, durante um seminário sobre tradições folclóricas brasileiras. Além de ministrar palestra, o ilustre ícone da cultura popular, deve encontrar e trocar experiências com os coordenadores das tradicionais festas de Mouros e Cristãos, celebradas em Valência neste mês de maio. Segundo o mestre Zé Rolinha, este é o reconhecimento de um trabalho desenvolvido ao longo da história. “É uma grande satisfação poder representar Laranjeiras e Sergipe em um evento tão importante fora das fronteiras brasileiras. Além disso, vou até a Espanha mostrar às novas gerações de europeus uma cultura que veio de lá mesmo (caso da Chegança), uma manifestação centenária que se mantém viva em Laranjeiras. Portanto, este é o reconhecimento de um trabalho desenvolvido ao longo da minha história”, disse. Zé Rolinha aproveita este momento também para destacar o apoio que vem recebendo da Prefeitura de Laranjeiras. “A atual administração de Laranjeiras vem promovendo grandes transformações positivas no que diz respeito ao incentivo à cultura e às manifestações folclóricas. Não é à-toa que a cidade hoje ganha o título de Capital da Cultura Popular. Isto não veio por acaso, mas, sim, através do diálogo e de um trabalho executado em parceria com os mestres e os 23 grupos folclóricos existentes na cidade. O Governo de Sergipe também é um grande parceiro nesta luta. Foi através do edital de intercâmbio e difusão cultural, que, no próximo sábado, estou viajando à Espanha. Só tenho a agradecer o empenho de cada um”, ressaltou, acrescentando ainda que a doutoranda Bárbara Lito também é fundamental. Investimentos em Cultura - Para garantir a tradicionalidade dos eventos, a prefeitura de Laranjeiras não mede esforços no sentido de proporcionar a todos os brincantes a infraestrutura necessária para produzir e divulgar a expressão cultural da cidade. Tudo é devidamente pensado e planejado antecipadamente, e o resultado final é bastante positivo, principalmente pela grande quantidade de turistas que visitam o município, como também a satisfação e alegria dos laranjeirenses em participar desses eventos culturais. Assim, algumas manifestações folclóricas como o Reisado, o Guerreiro, o Cacumbi, a Taieira, o Samba de Pareia, o São Gonçalo, o Batalhão de São João, a Chegança, os Penitentes, os Lambe-Sujos e Caboclinhos e o Micareme já são conhecidos por sergipanos e milhares de turistas que visitam Laranjeiras durante os tradicionais eventos, que já entraram para o calendário turístico e cultural de Sergipe. Entre os investimentos, se destacam a criação da Lei dos Mestres, a elaboração do Plano Municipal de Cultura, que vai vigorar por dez anos, as grandes obras de restauração de casarios e antigos prédios públicos, como o Bureaux de Informações Turísticas, a construção do Centro de Artesanato, José Monteiro Sobral e tantos outros. Na avaliação do Secretário Municipal de Cultura, Irineu Fontes, a intenção da prefeita Ione Sobral é incentivar o desenvolvimento sustentável da população. “Com os grupos folclóricos não foi diferente, hoje, através dos investimentos realizados, eles estão mais independentes, assim como, nós gestores também estamos estabelecendo mais diálogo. Portanto, através dos investimentos realizados já é possível notar uma melhoria significativa na estrutura e organização dos grupos folclóricos e dos eventos culturais. São medidas que estão fazendo a diferença e resgatando a história e a cultura de um povo”, frisou o secretário. (Fonte: Secretaria Municipal de Cultura de Laranjeiras/Sergipe)

CONHEÇA NOSSOS ARTISTAS: HORÁCIO HORA

Tributo à Horacio Hora Thiago Fragata* Nos idos de 1959, ao conceber o projeto expográfico do Museu Histórico de Sergipe, Jenner Augusto idealizou sala dedicada a obra de Horácio Hora. Com o apoio do irmão, Junot Silveira, e do próprio Governador, Luis Garcia, assim fez.[1] Em abril de 2007 a instituição cerrou as portas para uma restauração e desde sua reabertura em novembro do ano passado que o público ansiava pela reativação da Sala Horácio Hora, visto que a instituição detém maior acervo do artista romântico. Nascido na cidade de Laranjeiras, no dia 17 de setembro de 1853, filho de Maria Augusta Hora e Antônio Esteves de Souza, cedo Horacio Hora revelou inclinação para o desenho e artes plásticas. Fez os primeiros estudos na terra natal. Seu talento sensibilizou a Assembléia Legislativa da então Província de Sergipe que concedeu subvenção para estudar e aperfeiçoar seu trabalho na Escola de Belas Artes de Paris, França. Falecido no dia 28 de fevereiro de 1890, em Paris foi enterrado, longe dos familiares, da sua pátria. Na imprensa baiana, a notícia foi publicada somente em 1 de abril.[2] O principal estudo biográfico sobre o artista foi publicado por Baltazar Góis, onze anos depois de sua morte. Na “Biographia de Horácio Hora: pintor sergipano”, de 1901, o autor discorre sobre a vida e a obra do artista, com adendos de João Ribeiro, Gumercindo Bessa e Manuel dos Passos.[3]Recentemente, chegou ao nosso conhecimento um artigo de Manuel Curvelo de Mendonça (1870-1914) não-citado na referida biografia. Independente de qualquer justificativa evocada para o esquecimento de Góis, reproduzimos o achado a fim de endossar futuras pesquisas: “Não posso resistir ao impulso de trazer para aqui, posto que confusamente, as impressões amargas que me tocam o espírito, ao ter a notícia da morte de Horácio Hora, o saudoso artista sergipano. Não sei mesmo o que contribui mais para avivar este desejo: se a simpatia que desde criança tenho pelo ilustre pintor, ou se a consternação que nos deixa sempre no espírito o desaparecimento de uma dessas raras personalidades, que vivendo obscuramente, entregue ao serviço de uma causa, de uma ciência, ou de uma arte, deixam, morrendo, um vazio tanto maior, quanto mais difícil é de ser preenchido, o que não acontece, ao menos entre nós, com esses grandes da política, aos quais aliás rendem-se, em momentos idênticos, suntuosas homenagens. É provável que essas duas circunstâncias hajam pesado do mesmo modo neste meu empreendimento, nelas, pois, encontra ele sua explicação e justificativa. De todas as manifestações intelectuais de um povo qualquer, a arte é, fora de toda dúvida, uma das que mais próprias são para significar o grau de adiantamento em que ele permanece. Dar à matéria a forma de suas idéias e de suas crenças, traduzir do modo que lhes é permitido, o estado do seu espírito, tal é, conforme o que me parece de mais verossímil, uma das primeiras preocupações das sociedades, ao se constituírem. Afora o pendor natural pelo belo, tanto mais palpável quanto mais civilizado é o povo onde ele se faz sentir, tal é a causa imediata do apreço em que são tidas as artes nas grandes nações e do acoroçoamento que lhes deve um governo bem intencionado. Entre nós, todavia, a política nos tem assoberbado. Eis porque “a nossa instrução artística”, na frase caustica de José Veríssimo, o novel, mas já tão autorizado crítico paraense, “envolve-se ainda nas sombras do mito”. Ma não é isto o que me importa neste momento. Penso firmemente que Horácio Hora merece um completo estudo crítico, que nos venha revelar todas as variações e irradiações de que era capaz e seu belo talento artístico. Não serei eu quem leve, quem pretenda levar avante semelhante cometimento, para um tal estudo a falta dos documentos indispensáveis seria um enorme obstáculo, se maior e em primeira linha uma outra não viesse se antolhar – a minha incompetência. O Brasil, ou pelo menos, Sergipe precisa saber quem foi seu filho que a morte acaba de surpreender em Paris, quero dizer, no único lugar onde ele pode dos recursos de sua arte, honradamente viver. Nesse estudo deve ser salientado o “nacionalismo” de seus quadros e... não hesito em dizer, de todos os seus quadros, visto como penso que esse notável caráter há transparecido em seus trabalhos, com a dupla vantagem de torná-lo um artista verdadeiramente brasileiro, digno de nós, e de conservá-lo em sua originalidade, isto é, deixando entrever neles um “quê” indefinível, que é o reflexo do supremo encontro de nossa natureza inesgotável, que não se afastou do artista em sua peregrinação pelo velho mundo e que tão claramente se manifestou nos últimos momentos de sua vida, nestas palavras de amor: “longe da pátria”. Seja permitido aqui fazer uma pequena digressão. Com ternas reminiscências da infância, ainda tenho bem vivas na memória as impressões de uma tarde em que estive com o ilustre pintor em Laranjeiras, nas encostas de um dos morros dessa cidade, quando ele se entregava aos seus trabalhos de arte. Eu passava pela estrada que vai ter a Igreja do Bomfim, sita no cume do outeiro do mesmo nome, quando avistei-o embebido no seu mister. Semelhante descoberta era de natureza a atrair-me a curiosidade, tão acesa quanto era natural na idade em que eu estava. Lá chegando, só por instinto, reprimir a ansiedade de fazer-lhe mil perguntas, no que fui sempre muito pródigo a ponto de tão poucas vezes tornar-me imprudente. Naquele instante, porém, fui de uma extraordinária paciência, que não passou despercebida ao nosso artista. Num intervalo em que parecia descansar como quem termina a elaboração de uma estrofe, virou-se para mim, que sentado numa anfractuosidade da encosta, entretinha-me quedo na contemplação do que não compreendia, e perguntou-me o que achava no que via, isto é, nos traços que esboçavam a tela. - “Não sei como dessas linhas possa sair a cópia fiel desse belo quadro que ali vemos, mas gosto de ver como se faz aquelas bonitas pinturas que tem no seu gabinete”, disse-lhe eu com a intimidade e afoiteza das crianças. Não tenho fiel recordação do mais, porém sei que fiquei muito satisfeito com a palestra e votando-lhe já uma embrionária admiração, porque via nele um homem diferente dos outros, visto fazer coisas que os outros não faziam. Hoje, traduzindo esse “ser diferente dos outros” por – gênio – folgo ao considerar que naquele tempo eu já o tinha como tal. Peza-me bastante estar na impossibilidade de acrescentar aqui uma resenha mais ou menos perfeita de seus trabalhos. Alguma coisa que sobre mérito afirmei, quer me parecer seja de fácil verificação. O “nacionalismo” tem no quadro “Pery e Cecy” atualmente na Bahia, a mais eloqüente confirmação do que eu disse a esse respeito. Creio que a representação da deliciosa passagem do Paquequer em nada desmerece da bela criação de José de Alencar. Pela natureza dessas linhas, cujo alvo não ultrapassa o mero desejo de associar minhas mágoas as de meus conterrâneos pelo triste fim de nosso ilustre irmão, por sua natureza, digo eu, tendo-se ela em vista, se me desculpará que eu só tenha tido para ele elogios. Defeitos, se os tem, e censuras, se as merece, só a crítica compete apontá-lo e fazê-las, mas... com sobriedade e cordura para não afugentar os poucos talentos que em tal arte ousam se desenvolver entre nós, a ponto de se tornarem “avis rara”. Uma homenagem ao honrado artista sergipano, cujo laureado pincel a morte acaba de paralisar tão atrozmente, - eis o destino destas despretensiosas palavras. E... Como precedi-as de um belo pensamento de Bernardin de Saint Pierre [um túmulo é um monumento colocado no limite de dois mundos], fecho-as com uma não menos expressiva sentença de Álvares de Azevedo, um dos maiores escritores brasileiros antigos e modernos: “é ainda uma aurora sem dia que perdeu-se numa tempestade de inverno”.[4] Eis o artigo redigido por Manuel Curvelo de Mendonça, em Recife, em abril de 1890, e publicado em Sergipe, em junho daquele ano. Sincero e emocionado com a morte do artista a quem admirava. Para não esquecer Horácio Hora, ainda que a vida tenha sido breve, sua arte, aliás, o artista vive em suas obras. Convido o leitor, apreciá-las. O Museu Histórico de Sergipe funciona de terça a domingo, das 10 às 16 horas. * Thiago Fragata é historiador e poeta, especialista em História Cultural (UFS), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) e diretor do Museu Histórico de Sergipe (MHS). E-mail: thiagofragata@gmail.com Artigo publicado no Jornal da Cidade. Aracaju, ano XXXIX, n. 22/6/2010, p. B6

ARTE SERGIPANA EM PARIS

A arte sergipana em Paris Cândido Aragonez de Faria é destaque na história da caricatura Luiz luiz Antonio Barreto Cândido Aragonez de Faria (Foto: Divulgação) O nome do múltiplo artista Cândido Aragonez de Faria, nascido em Laranjeiras, órfão do cólera, tem destaque na História da Caricatura no Brasil, de Herman Lima, ainda que sua naturalidade permanecesse oculta. Coube ao professor Antonio Luiz Cagnin, como bolsista, e principalmente a Felipe Aragonez de Faria, revelar todo o caminho percorrido por FARIA desde que deixou Laranjeira, ainda criança, e foi para o Rio de Janeiro onde sua mãe tinha família, até a genial presença nas artes francesas, como autor de mais de três centenas de cartazes dos filmes da Casa Pathé, todos de admirável nível técnico. Sergipe ignorou o filho artista, mas aqui e ali forma-se uma nova geração interessada em cinema e em arte que, certamente, saberá fará aflorar o talento genial. Na França, no entanto, conhece-se FARIA e ele é sempre citado nas antologias e compêndios cinematográficos. Henri Bousquet, historiador do cinema na França, põe no seu livro Catalogue Pathé dos anos de 1896 a 1914, um texto sobre os colaboradores dos Irmãos Pathé, considerada a grande abrindo espaço, com foto, para destacar a originalidade da arte de FARIA, contribuindo para a ressurreição de uma Arte e de uma indústria. O jornalista e professor Ary Bezerra Leite, do Ceará, autor de vários livros sobre o cinema e a fotografia, cedeu-me cópia do texto de Henri Bousquet, um tributo ao artista sergipano que conti9nua, na França, considerado e exaltado pela sua arte. É Bousquet quem insiste sobre a nacionalidade de FARIA, como a partilha o sucesso com seus conterrâneos de Sergipe, enquanto fixa o valor do artista e a qualidade de suas obras , apontando para o Atelier da rua Steinkerke, endereço famoso do mestre Cândido Aragonez de Faria. Hélvio Maciel, de formação em publicidade e em filosofia, deparou-se em Paris com alguma coisa do FARIA que o emocionou. Acostumado a compor peças publicitárias, emocionou-se com o encontro com a arte sergipana na capital francesa. Ele viu, nas ruas parisienses, que FARIA sobrevive, embora tenha já completado 100 anos de morto, no passado 2011. A arte do laranjeirense, que foi, até certo ponto, contemporâneo de outro pintor de Laranjeiras – Horácio Hora, que tem merecido, em Sergipe, honrarias diversas. Será preciso, então, insistir com a divulgação da biografia de Cândido Aragonez de Faria, com o propósito de fortalecer a fortuna crítica dos sergipanos que numa das diásporas deixaram a terra e construíram nomes mercê do talento, do trabalho, da capacidade inovadora, que sempre uma característica das gerações de emigrados, que respondempelos alicerces fundamentais da cultura brasileira. A UNIT/Instituto Tobias Barreto montou, em ensejo do centenário de morte de FARIA, um painel com o retrato do artista e algumas de suas obras, reproduzidas. Laranjeiras, há alguns anos, montou uma exposição com reproduções de Cândido Aragonez de Faria, na Casa de João Ribeiro. Alguns pesquisadores, ligados aos diversos cursos universitários, têm demonstrado uma forte curiosidade sobre a produção do artista. Seu neto, Felipe Aragonez de Faria, curador da obra do avô, tem mantido viagens regulares ao Brasil, quando vem a Sergipe, pesquisando e completando suas anotações, reunidas em pelo menos três livros: um, sobre o médico José Cândido Faria, patriarca sergipano da família; outro sobre os Aragonez, desde a origem, a transferência para o Brasil, a vida em Laranjeiras, a mudança para o Rio de Janeiro, seguindo-se Porto Alegre, Buenos Ayres até aportar em Paris. Falta editor e seria de bom alvitre que o Governo do Estado, com as parcerias possíveis, liderasse o movimento para restaurar a biografia artística de FARIA. Temos, enfim, uma motivação artística e cultural, que não se encerra na tipicidade da arte de Cândido Aragonez de Faria na França, nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX. Ilustrado, atento ao movimento das artes, o Governador Marcelo Deda seria o líder mais necessário para defender o patrimônio artístico do FARIA, trazendo para Sergipe parte do acervo que Paris guarda, zelosamente. Será preciso mobilizar a inteligência, através de cursos, oficinas, conferências e outras promoções, para criar um movimento de restauro de uma biografia sergipana, grande em sua linguagem de criação, enorme na fortuna crítica que é guardada na capital francesa. E contar com a mídia, em todas as suas linguagens, para dar a todos a exata dimensão da importância de trazer para casa, depois de tanto tempo, mais um sergipano de valor.