quarta-feira, 13 de junho de 2012
O BRAVO SARGENTO ZACARIAS
Luiz Eduardo Costa
08/01/2012 14:07:31
O BRAVO SARGENTO ZACARIAS
Silenciosamente, sem honras militares, com a presença da família, dos amigos e de um oficial do exército brasileiro foi sepultado em Aracaju um herói de guerra. Era Zacarias Isidoro Cardoso, o Sargento Zacarias. Os mais jovens nem sabem quem ele foi. Lamentavelmente, os jovens nem andam sabendo se um dia o Brasil foi à guerra, combateu distante, do outro lado do Atlântico, na Itália, entre as escarpas geladas dos Apeninos e as planuras do Vale do Pó. Continuamos assim mesmo, esquecidos da nossa História, descuidados com os nossos heróis. Talvez, por isso, andemos frequentemente carentes de autoestima. Somos agora a sexta potência econômica do mundo, mas parecemos acanhados, porque estamos longe, ainda, do grau de civilização alcançada por países do chamado primeiro mundo. Nos Estados Unidos, a grande potência ainda hegemônica, começa agora a corrida eleitoral pela presidência, e no páreo, os republicanos colocam pré-candidatos que fazem entre si uma competição obscurantista. Parecem uns trogloditas. Acreditam piamente que aos Estados Unidos Deus atribuiu a missão de policiar o mundo; negam evidências científicas, como a teoria da evolução, consideram ímpios os que não interpretam o criacionismo ao pé da letra, dando seis dias para que Deus construísse o mundo, descansasse no sétimo, (como se Deus fosse humanamente sujeito a fadigas) depois, colocasse Adão e Eva castamente no paraíso, para cederem diante das tentações da serpente que os fez comer a maçã. Em Paris, onde inventaram o réveillon, a passagem do ano foi marcada, como sempre, por muita violência. Na avenida dos Champ Elysées, fortemente policiada, não se impediu a ação dos punguistas, das gangs violentas. Não houve show pirotécnico, mas centenas de fogueiras foram acesas nos bairros da periferia. Eram automóveis incendiados. Aqui, fizemos o melhor réveillon do mundo, dois milhões de pessoas nas areias de Copacabana, e quase nenhuma violência. Mas eles são os civilizados. Nós somos tupiniquins.
O que nos falta então? A resposta parece simples, e sem nenhuma contaminação desse enchimento de saco chamado autoajuda: precisamos, como povo, acreditar em nós mesmos.
Para que essa crença se consolide, teremos, também, de nos conhecer melhor. A História de um povo é sempre um bom fio condutor para o futuro. Valorizando a autocrítica, afastando qualquer sentimento de superioridade, fortalecendo a solidariedade com o mundo, o autoconhecimento é parte indispensável de qualquer processo civilizatório.
Morreu o Sargento Zacarias, herói sergipano, maruinense, detentor de medalhas de combate, uma delas, honraria única, jamais concedida. Relembremos o que ele fez, relembremos do seu tempo.
Em agosto de 42, o mundo já estava há quase três anos mergulhado numa guerra que se estendia do norte gelado da Noruega, passando pelas estepes russas, chegando às areias dos desertos africanos, às ilhas do Pacífico e a todos os mares. O Brasil, onde uma elite fascista admirava Hitler e Mussolini, recebera um ultimato do presidente Roosevelt: bases para os americanos, ou seria ocupado o nordeste, posição estratégica para a invasão da África e domínio do Atlântico Sul. Getúlio foi hábil, obteve financiamentos, uma siderúrgica, Volta Redonda, armas, e cedeu. Os submarinos alemães e italianos espalhavam-se em matilhas pelo Atlântico. Naquele mês, cinco navios foram torpedeados e afundados entre o sul sergipano e o norte da Bahia. Centenas de cadáveres e alguns sobreviventes vieram dar às nossas praias, da Atalaia ao Saco. Aracaju era uma cidade com pouco mais de 50 mil habitantes, quase isolada do resto do país. Para chegar até a Atalaia era preciso vencer muitos obstáculos. Não havia estradas para as praias das Caueiras, do Abaís, do Saco. Havia apenas umas poucas dezenas de veículos. Contava Walter Baptista, piloto do Aeroclube de Aracaju, que comandou as operações aéreas de reconhecimento e resgate, que o pânico tomou conta da cidade, alarmada com a possibilidade de um desembarque ou um bombardeio alemão. Murillo Mellins, nosso memorialista maior, conta: Ele tinha 15 anos e participou das correrias e quebra-quebras em busca de alemães e italianos, e das suas propriedades. No grupo de meninos, havia um com 17 anos, era Zacarias. Ele não queria vingar-se dos gringos aqui, queria combatê-los na Europa. Foi uma luta para conseguir alistar-se no Exército, e só em 44 partiu para a Itália. Lá, antes do combate verdadeiro, houve outro, travado nos estados-maiores do 5º exército americano e da nossa Divisão de Infantaria. Era preciso convencer ao comando americano que a tropa da FEB estava apta para a luta, mesmo com equipamentos deficientes, os mal nutridos de um país para eles ainda selvagem, tinham condições para combater. O Brasil era o único país, além dos contendores europeus, asiáticos, dos Estados Unidos e das colônias anglo-francesas, que tinha tropas na Europa. Foi raça, superação e persistência, que tornaram confiáveis nossos soldados. Ousadias como as de um soldado Zacarias, mostraram aos gringos desconfiados, que os desacreditados brasileiros eram combatentes tão bons, em alguns casos, até melhores do que eles.
Vamos contar nas nossas escolas a vida do Sargento Zacarias, mostrá-la no Museu da Gente Sergipana, dar o seu nome a uma grande avenida. Por que não aquela que o governo do estado constrói, ligando Socorro à rodovia BR-101? Ou aquela outra, em Aracaju, que a prefeitura está fazendo, o acesso à ponte sobre o rio Poxim. Enfim, uma AVENIDA SARGENTO ZACARIAS.
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