quarta-feira, 6 de junho de 2012
QUEM FOI JOÃO BEBE ÁGUA
“O seu feito grandioso
Não se passou por banal
Mas morrera obcecado
Por um retorno irreal
São Cristóvão nunca mais
Seria a capital…”
(Francisco Passos Santos – Chiquinho do Além-Mar)
Por Joanne Mota
Morador do quarteirão nº 19, da São Cristovão Capital, o lendário João Nepomuceno Borges nasceu em São Cristóvão, no ano de 1823, era filho do capitão Francisco Borges da Cruz e tinha um irmão de nome Silvério da Costa Borges. Sua escolaridade é desconhecida, mas sabia ler e escrever e exerceu durante muito tempo cargos de grande representatividade na sociedade. A história conta que João Bebe-água foi escrivão interino da Alfândega e Mesa de Rendas, de Santo Amaro; vereador; Juiz de Paz na cidade; fiscal da Câmara em 1872; e também foi “patrão-mor” da Mesa de Rendas da Barra da Cidade, hoje Barra dos Coqueiros.
Foi o homem que arregimentou 400 homens em protesto contra a transferência da Capital para o povoado Santo Antônio do Aracaju. Historiadores destacam que essa figura, que se tornou folclórica, publicou trabalhos no Pasquim do partido sob pseudônimo de ‘Nunes Machado’. João escolheu este pseudônimo inspirado na Revolução Praieira, já que Nunes Machado era, à época, o principal ícone do partido liberal no Brasil, desde que fora assassinado a frente dos revoltosos da Rua da Praia, em Recife, na eclosão da Revolução Praieira, em 31/12/1848.
Casou-se aos 50 anos, não temos ciência do nome da esposa, segundo o seu contemporâneo, Serafim Sant’iago, em publicação no ‘Annuario Christovense’, ele morreu viúvo. Durante os anos que sucederam a transferência da capital o “jacobino sancristovense”, como ficou conhecido, manteve o juramento de não pisar em Aracaju, período que observou piamente suas obrigações religiosas. Além disso, guardava sempre atrás da porta de sua casa foguedos que seriam usados quando a Capital voltasse a São Cristovão.
Nepomuceno Borges era componente da Irmandade do Amparo dos Homens Pardos, frequentando a igreja regularmente. Nessa irmandade, ele exerceu quase todas as funções: foi sineiro, zelador, sacristão, tesoureiro, avalista e procurador.
Sobre as suas peculiaridades físicas, a história conta que era de baixa estatura e um tanto gordinho; tinha a cor de um pardo amarelado em tom bilioso, cabelos amealhados; trajava jarreta e trazia sempre um lenço de rapé e uma catarina, como ele titulava uma figura preta feita de ponta de boi, onde guardava fumo torrado .
Entre torrados e doses de aguardente que faziam parte do cotidiano de muitos naquela época, inclusive de Dona Maria Paiva Monteiro, mais conhecida como ‘Dona Marinete’, que cuidava da quitanda de seu pai, conheceu bem o João. Segundo ela, desde pequeno João Bebe-Água sofreu com o desprezo, inclusive de seu pai, e a transferência só foi mais um fato que contribuiria para a vida melancólica desta figura, fato que o levaria a se entregar ao álcool.
No entanto, essa constatação não é universal, segundo historiadores a nominação “bebe-água”, foi conseguida graças a exibição da peça teatral “João Bebe-Água”, exibida na abertura do IV Festival de Arte de São Cristóvão (1975), de José Severo dos Santos e Alberto de Souza Oliveira.
Sobre sua morte, existem várias histórias e controvérsias. Os autores modernos se atrapalham e não conhecem ao certo como discorrer sobre esse assunto. De acordo com pesquisa realizada por João Pires Wynne, o enterro desta figura data de 1896, por outro lado, Sebrão Sobrinho chegou a assegurar que o rebelde de São Cristóvão morrera em 1890. O historiador Pedro Machado, que ignora o ano de morte, apenas localiza sua última residência e destaca que João Bebe-Água morreu em sua residência ainda existente em 1938, disjunta e construída ao da ladeira de São Francisco, perto do convento deste santo.
Contudo, todos os historiadores concordam com uma coisa: João Bebe-Água morreu pobre, sozinho e desacreditado, mas nunca desistiu do sonho de ver São Cristovão voltar a ser Capital e tampouco saiu de São Cristovão para conhecer a nova Capital que crescia em Aracaju.
Fontes:
‘João Bebe-Água o rebelde de São Cristóvão’ – De Autoria de Francisco Passos Santos – Chiquinho do Além-Mar
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