quarta-feira, 13 de junho de 2012
AS RAÍZES DO ILÊ AXÉ ALAKETU OYÁ BALÉ CABOCLO GONGOMBIRA
AS RAÍZES DO ILÊ AXÉ ALAKETU OYÁ BALÉ CABOCLO GONGOMBIRA
TEXTO DO MUSEÓLOGO SERGIPANO CLAUDIO DE JESUS SANTOS, FORMADO NA UFS.
O sangue e a
Ancestralidade
Não há como negar
Não há como recuar
Não há como recusar
Nos eleva e identifica
Severo D’Acelino. 2002
É pelo respeito e importância dada aos seus ancestrais que os povos africanos e afro-brasileiros cultuaram e cultuam seus Orixás, Voduns e Inquices mantendo forte suas tradições ao longo do tempo. É também dessa forma que o Ilê Asé Alaketu Oyá Balé Caboclo Gongombira considera de grande importância fazer um “exercício de memória” relembrando e buscando sempre as suas raízes.
Fundado em 15 de janeiro de 1989, o Ilê Asé Alaketu Oyá Balé, encontra-se situado na zona sul de Aracaju, no Loteamento Marivam, Bairro Santa Maria, nº 210. O Terreiro que está sob os cuidados da Iyalorixá Maria Claudeildes Santos de Santana, filha de Oyá Balé tendo como urukó Megelecy, cultua seus Orixás e Voduns (1) nas nações de Ketu (2) e Jeje, cultuando também os caboclos e exus na nação Angola, preservando assim o patrimônio religioso e cultural dos seus antepassados.
Dessa forma é preciso salientar que as suas raízes estão diretamente ligadas a uma das casas de Ketu mais tradicionais do Estado de Sergipe, o Abagsá Ogun Marinho, situado no Bairro Santos Dumont, Rua Jaime Paulo, nº97, também em Aracaju, pertencente a Iyalorixá octogenária Josefa Maria dos Santos, sua Mãe de Santo e consanguínea.
Conhecida popularmente como Mãe Nair, a história da Iyalorixá Josefa Maria se entrelaça com a história de alguns nomes importantes que contribuíram para a formação da memória do candomblé sergipano.
Filha de santo e neta sanguínea da Iyalorixá Elisa Martins dos Santos, conhecida como Eliza D’Ayará, Mãe Nair foi iniciada com o Orixá Ogum tendo como urukó (3) “Lua-Omim”.
Já Elisa D’Ayrá, por sua vez, foi iniciada com o Orixá Xangô e de urukó Babá-Omim, fazendo parte da primeira geração de iniciados no “candomblé de feitorio” do Estado de Sergipe, na Nação de Ketu, introduzido pelo Babalorixá baiano Manuel do Amaral, conhecido popularmente como Manezinho Sandayó, nos anos de 1920.
Entre os primeiros iniciados, segundo Mãe Nair (4), estavam Ercília Lima, a primeira raspada (5) em Sergipe, com o Orixá Oxum, Elisa Martins (sua avó) com Xangô, Odete com Odé, Carmelita com Xangô Aganjú, Otávio com Oxosse, José Adolfo com Iemanjá, Eleonora com Oxalá Talabi, Jorge Paim com Oxum, Kaciano com Obaluayê, Malaquias com Xangô, Washington e o Ogã (6) Bomfim com Oxalá.
Foi seguindo os conhecimentos tradicionais ensinados por Manezinho Sandayó que a Iyalorixá Elisa D’Ayrá abriu o “Terreiro São Pedro”, situado no alto da Suissa Braba em Aracaju, e iniciou seus poucos filhos-de-santo, entre eles Nair de Ogun (sua neta), Carmelita de Obaluayê, Núbia da Oxum e Carminha da Oyá.
Anos mais tarde Elisa D’Ayrá viajou para a Ilha da Conceição, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, região em que plantou seu Axé e após seu falecimento deixou sob os cuidados de Benício de Xangô e de Bebé sua esposa, o qual veio a ser fechado após o falecimento dos mesmos.
Na atualidade, mesmo com o falecimento da Iyalorixá Elisa de D’Ayrá, o Orixá Xangô Babá-Omim permanece na família, ficando como “Deixa” (7) de Mãe Nair, sendo cultuado no Ilé Asé Oyá Balé Caboclo Gongombira, o qual mantém sua tradição. “Kawó-kabiyèsíle!”
3.PENSANDO NO UNIVERSO DO AXÉ: O MUSEU, O TERREIRO E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO AFRO-BRASILEIRO
Refletir sobre o patrimônio cultural afro-brasileiro no universo do axé, “força movimentadora da vida” (D’ACELINO, 2008) é uma tarefa instigante e ao mesmo tempo surpreendente quando correlacionamos dois, dos principais espaços, responsáveis pela sua preservação e valorização: o museu e o terreiro.
Ao lançarmos o nosso olhar pelas lentes da cultura afro-brasileira poderíamos afirmar que além do Terreiro, o Museu também possui esse axé, que pode ser percebido quando enxergamos o museu como um fenômeno, o qual: “Pode existir em qualquer espaço, em qualquer tempo. Inexiste, portanto, uma forma ‘ideal’ de Museu, que possa ser utilizada em diferentes realidades: o Museu toma a forma possível em cada sociedade, sob a influência dos seus valores e representações” (SCHEINER, 2001, p.06).
Fazendo uma correlação do museu com o terreiro, podemos dizer que é o axé grande responsável por dar “alma as coisas” e trazer para seus objetos o Ori, manifestando sua individualidade e identidade que caracteriza cada bem patrimonial. O museu também é o responsável pelo Okan, “órgão que centraliza o poder de vida e sede da inteligência, do pensamento e da ação” podendo este ser entendido como a memória. E para guardar o conjunto desse patrimônio, temos as Iyabás, dentre elas, Nanã, Iemanjá, Iansã e Oxum, as quis nos lembram as musas.
Diante dessa breve relação simbólica entre o museu e universo cultural afro-brasileiro faz-se necessário ressaltar a importância do Ilê para a preservação e valorização dos bens culturais e patrimoniais produzidos pelos afro-descendentes no Brasil.
Assim como o museu, os terreiros também selecionam, guardam e expõem “coisas” com a intenção de evocar lembranças e tencionar a reconstrução de uma determinada época, seja no culto aos seus ancestrais ou até mesmo nas relações hierárquicas que são estabelecidas entre seus membros, com a intenção de manter uma tradição.
Dessa forma o terreiro se assemelha ao museu, construindo “teias de significados” (GERRETZ, 1978) através do seu patrimônio material e humano, presentes no seu dia-a-dia, num processo constante de construção e reafirmação de sua identidade. E, em se tratando do patrimônio humano, talvez, seja esse o grande diferencial entre ambos ao se trabalhar a sua preservação. Pois como destaca Bruno Brulon “Ao se tombar um terreiro de candomblé, o que se deseja preservar em primeiro lugar é a comunidade que nele vive, se transforma e se manifesta culturalmente pela religião” (2008, p.135), o que nem sempre acontece com os museus, uma vez que muitos sacralizam suas em vitrines, afastando-os de seus grupos produtores.
Essa relevância poderá ser percebida também nos critérios que levamos em consideração ao pensar a musealização do Ilê Axé de Alaketu Oyá Balé Caboclo Gongombira, uma vez que a intenção se faz em justamente ressaltar a importância do Terreiro para a comunidade local em que está inserido, com a finalidade de criar mecanismos que tragam a interação, dos que transitam neste espaço, com o patrimônio que ali se encontra contribuindo para o processo de valorização da cultura afro-brasileira em Sergipe.
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