sexta-feira, 1 de junho de 2012

XANGÔ REZADO ALTO

O Quebra do xangô 1912 – 2012 sex, 01/06/12 por yvonnemaggie |categoria Sem categoria O Congresso de Cultura Afro Brasileira em Alagoas – Xangô Rezado Alto – Centenário do Quebra 1912 – 2012, organizado pela Reitoria da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) na cidade de Arapiraca, foi um dos pontos altos de uma série de eventos realizados no ano do centenário do Quebra-quebra dos xangôs de Maceió. No dia 1º de fevereiro último, ao final de um cortejo com mais de três mil participantes, com seus trajes brancos, lideranças das religiões afro-brasileiras, diversas autoridades políticas, professores universitários e estudantes conduzidos pelo reitor da Uneal com seu capelo – pequena capa sobre os ombros, que simboliza o poder do Reitor e sua magnificência – realizaram um ritual oficial, no qual o governador do estado Teotônio Vilela pediu perdão em nome das autoridades governamentais pela violência contra os xangôs, ocorridas em 1912. Na abertura do congresso fomos brindados com uma belíssima exposição – Presença negra em Alagoas – no Memorial da Mulher – Parque Ceci Cunha. Uma instalação de autoria de Agélio Novais e curadoria de Fernando Gomes de Andrade simulando uma casa de xangô, com um peji todo branco e destruído, um poste central pintado de vermelho e respingos da mesma tinta pelo chão branco onde se lia as palavras: repressão, racismo, intolerância, violência e preconceito. Em suas paredes internas, formando um círculo, havia grandes cartazes com fotos da Coleção Perseverança, um dos mais ricos conjuntos de objetos dos cultos afro-brasileiros, que sobreviveram ao ataque que a Liga dos Republicanos Combatentes fez às principais casas de xangô de Maceió, na fatídica noite do dia 1º de fevereiro de 1912, depois resgatados pela Sociedade Perseverança e Auxílio e, em 1950, doados ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), em cujas instalações se encontram até hoje. Nas paredes do lado de fora da instalação, um resumo da história silenciada por tanto tempo. Na mesma noite, a orquestra de Tambores de Alagoas apresentou-se levando o som dos atabaques e a voz forte e doce de Mãe Vera entoando cânticos melodiosos em homenagem aos orixás para dentro do coração dos assistentes, absortos em absoluto silêncio no terraço a céu aberto. O reitor da Uneal, professor Jairo José da Costa Campos, procedeu à abertura do congresso, seguida da Palestra Magna do professor Lepê Corrêa, grande conhecedor das coisas do santo. O professor Lepê iniciou sua conferência com um magnífico toque deatabaque. Na ausência do instrumento musical apropriado, improvisou, ou “resignificou o objeto”, em suas palavras, cobrindo um garrafão de água de plástico com um pano branco. O rufar do tambor e a belíssima voz do ogã, saudaram exu e xangô. Só então o professor Lepê iniciou a sua fala. O evento lembrava os velhos tempos do primeiro e segundo congressos afro-brasileiros – o de Recife, organizado por Gilberto Freyre em 1934, e o de Salvador, por Edison Carneiro, Aydano do Couto Ferraz e Reginaldo Guimarães, cuja conferência de abertura foi proferida pelo famoso babalorixá Martiniano Bonfim, em 1937. Naquele tempo, Gilberto Freyre e Edison Carneiro, com as lideranças religiosas mais importantes de Recife e de Salvador se uniram pela primeira vez para pensar, refletir e tirar as “teses”. O Congresso de Salvador foi espetacular, dizem, e mãe Aninha assim tratada carinhosamente, ofereceu uma linda festa, jamais vista, em sua casa, e um chamamento para a união de acadêmicos e religiosos. Várias mães e pais-de-santo inscreveram suas comunicações no congresso como a própria Aninha, Bernardino e Falefá, assim como outros famosos líderes religiosos. O congresso da Bahia contou ainda com a participação de antropólogos e sociólogos estrangeiros como Melville Herskovitz, Robert Park, Fernando Ortiz e Maria Acher que enviaram suas contribuições. O sociólogo Donald Pierson, proferiu duas conferências. De São Paulo, Mario de Andrade enviou à Bahia o compositor Camargo Guarnieri. De Alagoas chegaram comunicações de Manuel Diegues Junior e Alfredo Brandão. Foi nesse congresso da Bahia que Edison Carneiro, ao lado de Aninha, no dia 3 de agosto de 1937, criou a União das Seitas Afro-Brasileiras da Bahia, a primeira organização com o objetivo de congregar os chefes religiosos e protegê-los das investidas policiais. Esses dois congressos fizeram um alerta contra a ação da polícia e a repressão aos terreiros de Recife e Salvador e reafirmaram o princípio constitucional da liberdade de culto. Neste maio, no seminário de Arapiraca, as lideranças religiosas e os acadêmicos apresentaram suas comunicações, discutiram pontos de vista e fizeram depoimentos comoventes. Na manhã de sexta-feira, os trabalhos foram iniciados por Mãe Miriam com cânticos de louvor a oxalá, entoados por acadêmicos e líderes religiosos, todos vestidos de branco. Naquela manhã, Mãe Miriam, a mais antiga ali presente, contou sua história de vida de forma tão íntima e honesta que ficamos todos com a respiração suspensa. Os palestrantes discorreram sobre o Quebra e suas terríveis consequências para os xangôs, sobre a formação histórica das religiões afro-brasileiras e sobre contextos e nações afro-brasileiras. Faço aqui minha homenagem aos organizadores do seminário e aos líderes religiosos que representam em Alagoas a continuidade, a beleza e a força dos xangôs. Eles não deixaram de registrar uma moção contra os abusos policiais e a repressão às casas de culto, como fizeram, em 1937, Mãe Aninha, do Ilé Axé Apó Afonjá e seus seguidores. Se na Bahia dos anos 1930 o congresso foi aberto com uma maravilhosa festa na casa de Aninha, em Arapiraca os congressistas foram recebidos na casa de uma das importantes lideranças locais, que organizou um abaixo-assinado contra a perseguição da polícia aos xangôs, ainda comum em Alagoas. Para saber mais sobre as atividades do Xangô Rezado Alto promovidas pela Reitoria da UNEAL ver o site http://xangorezadoalto.blogspot.com.br/2012_02_01_archive.html

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